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CPT BAHIA

Conselho da CPT Bahia faz memória dos seus 40 anos de rebeldia e luta

“Memória, Rebeldia, Esperança” é o tema da comemoração dos 40 anos da CPT, celebrado no Congresso Nacional, em maio de 2015 e relembrado no conselho da CPT Bahia recentemente. Durante os dias 7 a 11 de dezembro de 2015, na cidade de Sr. do Bonfim, há 381 km de Salvador, agentes da CPT Bahia, em conjunto com representantes das comunidades e dos movimentos sociais parceiros da pastoral, discutiram a memória e a rebeldia de 40 anos de atuação da CPT.

O evento que funciona como um momento de avaliação das atividades planejadas durante o ano de 2015, serviu também para refletir sobre a atual conjuntura política do campo brasileiro. O encontro apontou prioridades para a atuação da CPT no próximo triênio, que serão rediscutidas na Assembleia da CPT Bahia, em abril de 2016. São elas: Terra, território e água, formação (com ênfase na formação de jovens) e sustentabilidade (tanto pastoral quanto financeira).

Memória
As prioridades apontam para o futuro, mas o passado revisitado durante o evento, mostra que a história de mais de 30 anos da CPT, desconhecida dos agentes mais novos, é importante para interpretar o presente da entidade e dos povos que lutam para permanecerem no campo.

Na memória, lutas e resistências foram lembradas
Na memória, lutas e resistências foram lembradas

Na abertura do conselho, os sub-regionais fizeram memória da luta pela terra. Em três tendas cheias de fotos, foram lembrados conflitos emblemáticos que definiram a atuação da pastoral ao longo do tempo. O Centro-norte relembrou o conflito de Areia Grande, onde posseiros resistiram e fizeram enfrentamento aos grandes empreendimentos que ameaçavam a permanência deles na terra. A região centro-oeste trouxe o enfrentamento de posseiros à grilagem de terras, ocorrida na década de 70 e que culminou no assassinato do advogado Eugênio Lyra. A região sul-sudoeste relembrou a luta pela terra na região de Sarampo, no sul da Bahia, evento que redefiniu a atuação da pastoral que passou a priorizar os conflitos e a luta pela terra. “Saber que para permanecerem na terra, os camponeses tiveram que passar por tudo aquilo, faz a gente perceber que a CPT mantém a missão para a qual foi criada e que a sua existência continua sendo necessária”, reflete o agente da CPT Bahia Centro-oeste, Hamilton Luz.

Além da Memória, a Esperança também foi evocada. “Nós apontamos para aquilo que nos anima. A fé do povo, a fé em Deus, os processos de resistência e as conquistas, como as retomadas de territórios indígenas”, fala Maria Aparecida Silva, agente da CPT Bahia Centro-Norte. (Confira aqui alguns dos depoimentos de agentes da CPT Bahia, sobre a história de mais de 30 anos da Pastoral)

Atualização
No segundo dia do Conselho foi feita uma atualização dos fatos que afligem os trabalhadores e dificultam ainda mais a luta no campo. Na opinião de Julita Carvalho, da CPT Centro-oeste, a flexibilização das outorgas de água, agora concedidas pelos municípios, mudou também a cara da grilagem de terra. “A grilagem é hoje muito mais por água do que por terra”, analisa Julita. Maria Aparecida Silva aponta para uma maior participação do Estado nos processos de grilagem. “Hoje fica mais claro que o principal inimigo é o Estado”, afirma.

Também foram denunciados os 181 projetos de energia eólica que estão previstos para serem implantados na Bahia, o segundo estado brasileiro na produção desse tipo de energia. “Utilizar do vento ou da luz solar para a produção de energia não é o problema, mas sim esses processos estarem nas mãos de grandes empresas ao invés das mãos das comunidades”, critica Roberto Malvezzi. “Temos que reforçar essa alma camponesa, baseada na coletividade”, defende Malvezzi.

Quanto à atuação da CPT, o coordenador da CPT/BA, Luciano Bernardi, acredita que algo importante para a organização é a sua sustentabilidade pastoral e ética. “Nós temos de buscar isso, a conquista de uma pastoral ética”, defende.

Movimentos e organizações
No painel de cenários que foi feito durante a tarde, representantes de organizações parceiras colaboraram nas discussões. Na opinião de Eduardo Cardoso da Associação de Fundos e Fechos de Pasto, poucas entidades discutem hoje a questão do território. “Todos querem discutir projetos para as comunidades, mas poucas entidades têm a conquista do território como uma bandeira”, lamenta.

Diante do atual cenário político, Ednólia Oliveira do movimento CETA, critica a atuação do governo Lula. “O governo devia ter feito as reformas estruturantes, como a reforma agrária, já no primeiro mandato de Lula”.

Ednólia, do movimento CETA, critica a atuação do governo Lula
Ednólia, do movimento CETA, critica a atuação do governo Lula

Para advogada da AATR e assessora da CPT Bahia, Tatiana Emília Dias Gomes, um dos pontos positivos dos eventos recentes, como o desastre ambiental de Mariana (MG), é a derrubada do consenso em torno do atual modelo de desenvolvimento. “As classes médias urbanas estão se preocupando cada vez mais com a questão da mineração e com uma alimentação saudável. A crise hídrica de São Paulo também tem ajudado a retomar a questão do rio São Francisco”.

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