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CPT BAHIA

Depoimentos de 40 anos de luta na CPT Bahia

“A terra é de quem trabalha / E a história não falha, nós vamos ganhar / (…)/ Já chega de tanto sofrer / Já chega de tanto esperar / A luta vai ser tão difícil / Na lei ou na marra nós vamos ganhar…”. A canção “A história não falha” foi relembrada na noite do dia 9 de dezembro, junto com várias histórias comoventes de pessoas que atuaram na Comissão Pastoral da Terra (CPT) e vivenciaram momentos importantes da luta no campo da Bahia. Confira algumas dessas histórias logo abaixo!

Djanete
“Cheguei na Bahia em 78. Em 79 fui convidada para trabalhar na CPT de Sta Maria da Vitória. Era um momento tenso. Fazia três anos que Eugênio Lyra havia sido assassinado. Todos nós morávamos na mesma casa para termos mais segurança. Foi um momento de muito conflito. A comunidade de Cana Brava estava sendo expulsa pelo INCRA. Quem fazia isso era a Polícia Federal. Esse povo tinha que sair de lá para a PEC Serra do Ramalho. Tinham que sair para dar lugar ao povo que estava sendo expulso de Sobradinho. Para dar lugar ao povo que estava sendo expulso de sua terra, queriam expulsar o povo da região. A PF vinha e derrubava as casas. Foi feita toda uma luta para fundar o sindicato. Mais de mil pessoas presentes.
A comunidade começou a se organizar e dizer: “daqui a gente não sai”. Botaram os tratores para derrubar as casas do povo. Como forma de resistência, as crianças sugeriram que a professora desse aula para elas em cima da ponte por onde as máquinas passariam. Quando as máquinas chegaram, soltaram fogos para avisar todo mundo que estavam chegando. Os motoristas desistiram, disseram que não passariam por cima das crianças. Essa comunidade, depois de 3 anos de muita luta, conseguiu 70 ha para cada família. Quando conseguiram as terras, conquistaram mais tarde escolas e energia.”

Luis Eduardo Terrin

Edu
Luis Eduardo Terrin relembra trajetória na CPT

“A CPT, diferente das outras pastorais, não está voltada para dentro, ela está voltada pra fora. Ela quer se caracterizar como serviço. Para que os trabalhadores enfrentem juntos os problemas do latifúndio. Para que sejam sujeitos e atores da própria libertação. Estávamos em plena ditadura, mas tínhamos essas frestas. Em 77 surge a CPT Juazeiro, em 78 a CPT Lapa. Acho que celebrando 40 anos, temos que olhar o nacional como inspiração. Se atualiza e só faz isso porque está com o pé na realidade. Cheguei aqui no momento da barragem de Sobradinho em 78. A pressão que conseguimos fazer em cima dos órgãos, fez o Estado da Bahia dar uma pequena quantia ao povo. Conheci o antigo cais do rio recentemente, quando fui em Remanso e me veio a memória de todos os relatos do povo e seu sofrimento.”

Roberto Malvezzi (Gogó)
“Nunca tinha visto nada parecido com o que eu vi em Campo Alegre de Lurdes. Eu vim em 1980 e ouvir o povo era uma grande diferença metodológica. Usávamos slides e o povo adorava. Depois veio a seca de 82 com a grande mortandade de gente. Quando veio a seca veio também a grande necessidade do povo.”

Pe. Luis Tonetto
“Eu sou filho de camponeses. Nasci no campo. Me tornei padre na época de João XXII. Em 66 cheguei aqui. A história na CPT é misturada com a minha história de padre. No contato com o povo, fui pegando gosto com esse trabalho com as comunidades. A CHESF abriu uma pista para colocar uma rede elétrica. Eu era padre em Jaguarari e vi um monte de gente perder as terras. E começamos reivindicando pelo menos uma indenização. D. Jairo lutou para criar sindicatos em várias cidades. D. Jairo teve logo a ideia de implantar a CPT aqui em Bonfim. Hélio foi o primeiro a pagar com a vida em 78. O fazendeiro convidou Hélio para ir no carro dele e eu o acompanhei. O fazendeiro disse: ‘vc sabe que eu posso te matar’. Quinze dias depois Hélio apareceu morto. Nós, padres, assumimos a causa e os bispos também. Se os pobres daqui são os trabalhadores, então vamos trabalhar com eles.”

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