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CPT BAHIA

Eugênio Lyra, um homem, um ideal

Gostaria de compartilhar esse texto sobre Eugênio Lyra, da querida Isadora, publicado no Jornal A Tarde, que tive a alegria de ler. Alegria por uma assunto tão trágico? Você poderá me perguntar.. Confirmo minha alegria em ler seu texto, pelos seguintes motivos.

Na sua conclusão, voce nos expressa uma certeza que ilumina e reanima,  a cada momento, o Brasil que estamos vivenciando hoje; sua síntese,  clara como o sol do Nordeste, nos impele a sempre buscar o que está  por trás de planos e execuções ferozes e horripilantes como as que estamos acompanhando,  sobretudo nestes dois últimos anos na violência instalada e permanente no campo.

Pessoalmente, muitos de nós da CPT sentem sua ajuda quando você resgatando a memoria de Eugênio Lyra, resgata e ilumina também a memória da saudosa Marta Pinto dos Anjos, advogada, que jamais você quis considerar morta. Foi Marta, de fato, quem partilhou mais, para nós da CPT que viemos logo depois da tragedia de Eugênio, quem era e o que representava este jovem advogado; agora, lendo você, nos damos conta de onde também Marta, nossa amiga comum,  bebeu humanidade e eficácia, doação e rigor profissional;  Marta continua ainda nos dar pareceres e chamadas de atenção….toda vez que a gente faz memória dela.

Receba, Isadora, nosso abraço agradecido por estas memórias que mantem acesa a rebeldia e a esperança para tempos em que por demais temos necessidades delas.

Luciano Bernardi – CPT Bahia  

Segue o texto na íntegra, da Isadora Browne Ribeiro:

“O dia 22 de setembro de 2017 marca os 40 anos da impunidade do assassinato de Eugênio Lyra. Todos sabem quem atirou. O mandante é conhecido. Eugênio tinha 30 anos. Não conheceu sua filha.

Eugenio Lyra formou-se em direito em 1971.

A partir de 1968 e nas décadas de 70 e 80, dá-se profunda reformulação no campo em toda a Bahia, com ênfase no oeste, como confisco de áreas devolutas (de domínio público), de onde os posseiros tiravam seu sustento há gerações.

Era o processo da “modernização conservadora do campo”, uma nova versão da plantation colonial: grande extensão de terras, monocultura para exportação, financiamento com capital estrangeiro e trabalho escravo.

Para a região oeste, foi criado um plano específico de ocupação, com propaganda inclusive no exterior, que apenas “esquecia” de apontar que estas terras estavam ocupadas por pequenos produtores e posseiros.

Eugênio e a companheira Lúcia abriram seu escritório na rua Chile. Diante dos abusos de grileiros, que se apropriam de forma irregular e desonesta de terras devolutas, decidiram, em 76, advogar para os posseiros do oeste. Mudaram-se para Paripiranga, depois para Santa Maria da Vitória. Trabalhavam junto à Comissão Pastoral da Terra, a CPT.

No início de 77, Eugênio recusou oferta de trabalhar para os grileiros. Passou a correr perigo. Lúcia, já grávida, não queria mais que andasse só.

Instalada a CPI da Grilagem na Assembleia Legislativa, o primeiro depoimento, em 23 de setembro, seria de Eugênio Lyra. Na véspera, na porta da barbearia, à tarde, na praça central da cidade, ao lado de Lúcia e em frente a todos, foi assassinado, melhor dizendo, executado, com um tiro na testa.

Mas o ideal de Eugênio Lyra vive. A Associação dos Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR) é a expressão do tributo a ele e atende ao chamamento do poeta: “Plantemos novas sementes/ colhamos frutos maduros/ rompamos todas as frentes/ e os obstáculos futuros./ Sejamos mais conscientes/ e, juntos, onipotentes/ prostremos todos os muros”. (Isadora Browne Ribeiro)

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