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CPT BAHIA

Mosquitos transgênicos aqui de Juazeiro

Está sendo divulgado em nível nacional, como absoluto sucesso, a soltura de mosquitos transgênicos do Aedes Aegypti, como forma de combate à dengue, aqui na cidade de Juazeiro da Bahia. Os números dizem que no “bairro de Mandacaru a incidência da dengue caiu 90%”. No bairro do Itaberaba também.

Em primeiro, Mandacaru é um distrito de irrigação, está afastado do centro urbano de Juazeiro. Itaberaba é dos muitos bairros pobres e insalubres da cidade, para onde vieram milhares de trabalhadores da cana e da fruticultura irrigada.

O caso tem sido comentado em nível mundial porque a soltura dos mosquitos – aqui trabalho feito pela Moscamed, mas que traz a larva da empresa britânica Oxitec – foi feito sem os cuidados da precaução. O macho é geneticamente modificado em laboratório, copula com a fêmea e as larvas dessa fêmea morrem. É bom lembrar que as primeiras experiências foram feitas em regiões do Caribe e aqui agora nas periferias de Juazeiro. Portanto, lugares pobres e de terceiro mundo. Enfim, somos cobaias dessa experiência.

O caso já foi dado como sucesso e a CTNBio já liberou a experiência para todo território nacional.

Eu que sou morador da cidade – imagino que também muitos outros cidadãos juazeirenses – estou me perguntando se essa experiência pode mesmo ser considerada o sucesso propalado.

Nunca tivemos tantos mosquitos na cidade – e olha que sempre tivemos em nuvens – como estamos tendo agora. Nas manifestações de julho do ano passado a massa que subiu a ponte que une Juazeiro à Petrolina carregava mosquiteiros na cabeça para protestar contra a praga que devora a cidade. Alguns bares abertos colocaram mosquiteiros nas mesas para que as pessoas pudessem sentar-se ali e beber sua cerveja. Uma pizzaria da cidade, também com um espaço aberto, oferece repelentes para os fregueses passarem no corpo e assim poderem comer suas pizzas em paz.

Será que a solução está mesmo na transgenia? Ou é o saneamento? Como não ter mosquito numa cidade que não tem saneamento básico, cujos bairros com até 30 mil pessoas tem o esgoto correndo a céu aberto? Claro que precisamos nos livrar da dengue, mas ela não é o único problema da cidade, já que existem uma quantidade enorme de outros mosquitos – muriçoca, muruin, etc. – que fazem um inferno em nossas casas e nos espaço públicos.

Nem vamos falar do impacto da transgenia na natureza. Será mesmo que a proliferação dos outros mosquitos na cidade nada tem a ver com a soltura do Aedes transgênico ? E os demais possíveis desequilíbrios ambientais foram efetivamente avaliados?

Enfim, seria preciso muito mais cuidado e ampliação do leque de informações, da situação como um todo, para que a CNTBIO decidisse o que já decidiu. Isso é muito bom para empresas, para o poder público que pode lavar as mãos diante do inferno que é viver numa nuvem de mosquitos numa cidade sem saneamento. Para o povo, a solução ainda está por vir.

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