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CPT BAHIA

O adeus a Dom Tomás Balduino

Não nos deixem sozinhos!” clamou uma indígena Krahô durante celebração no velório de Dom Tomás Balduino, falecido na última sexta-feira, 02 de maio.  Pedido dirigido sobretudo à Igreja, estende-se também aos amigos, amigas, militantes, admiradores e admiradoras de Dom Tomás. Foi uma fala que reafirmou e reforçou a fala dos demais indígenas durante as últimas homenagens ao bispo  fundador da CPT e do CIMI, “a luta dele continuará através de todos nós!”.  Não foram poucas as homenagens e mensagens vindas das mais diversas partes desse nosso país e do mundo. Também não foram poucas as celebrações que relembraram e reafirmaram o compromisso de dar continuidade às lutas encampadas e defendidas por Dom Tomás.

 

Bispo da reforma agrária,  dos indígenas, dos povos do campo e das florestas, dos pobres do Brasil e de toda a América Latina. Assim era conhecido e reconhecido.  Para os amigos era, simplesmente, Tomás. De sorriso largo, cheio de simplicidade, Dom Tomás será sempre lembrado por sua  proximidade com os povos que o admiravam. As Igrejas, os povos indígenas e os camponeses fizeram cada qual a seu jeito sua despedida. A        família, os amigos, a família dominicana da mesma forma o fizeram. Como foi sua vida e caminhada, não poderia deixar de ser a sua despedida, plural e diversa,  ecumênica e profética, forte e revolucionária.

 

Plantado na Catedral da  Cidade de Goiás está seu corpo, pelo mundo continuará ressoando  sua voz pela  libertação do povo da terra, por justiça social e por uma  sociedade mais justa e igualitária.

 

“Direitos humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé!”

Assimproclamou Dom Tomás.  Batizado Paulo, escolheu por nome Tomás quando tornou-se religioso dominicano. Desde a década de 1950 atuava próximo aos povos indígenas e aos camponeses, quando foi nomeado superior da missão dos dominicanos na Prelazia de Conceição do  Araguaia, no Pará. Sempre ávido por mais informações e  conhecimento, decidiu  estudar linguística indígena, em um curso na Universidade Nacional de Brasília (UNB), onde aprendeu a língua dos índios Xicrin, dos grupos Bacajá e Kayapó.  Também diante da necessidade e das dificuldades em percorrer grandes extensões territoriais entre os estados do Pará, Mato Grosso e Goiás, fez  curso de piloto  de avião, e amigos italianos o presentearam com um teco-teco vermelho. Avião esse que poderia contar inúmeras histórias sobre a seriedade e os cuidados de Dom Tomás ao pilotar, sobre as visitas às aldeias indígenas da  Amazônia,  algumas vezes levando médicos para cuidar da saúde dos índios, e sobre aqueles e aquelas cujas vidas Dom Tomás salvou ao tirá-los do alvo das ameaças da  ditadura militar.

 

Apesar do delicado estado de  sua saúde, a notícia de sua morte pegou a todos de surpresa.  Pois até o fim  manteve uma lucidez impressionante, pedindo inclusive aos que o  cercavam apoio para redigir algumas contribuições que ele queria enviar para  serem  incorporadas ao documento da terra em debate na 52ª Assembleia   Geral dos Bispos do Brasil, que ainda acontece em Aparecida (SP) da qual sonhava  participar.  Continuava a se preocupar com o povo pobre, dizendo que        precisávamos, também,   ajudar os andarilhos e moradores de rua desse país. Povo muito  sofrido,  conforme suas palavras. Deixava claro que ainda queria lutar, e   que tinha muito   a fazer e contribuir na busca por um mundo mais justo.

 

A  tristeza de sua partida,  que tomou conta de todos e todas que o conheceram,  não foi maior que a certeza de que Dom Tomás   viveu em plenitude e deixou muitos frutos.

 

As  milhares de pessoas que passaram pelo velório e celebrações, na cidade de Goiânia, na  Igreja São Judas Tadeu, ao encargo da família dominicana, entre os dias 3 e 4 de  maio, e na  cidade de Goiás, na tarde do dia 4 e manhã do dia 5 de maio, são   provas disso.  Dom Tomás foi recebido na cidade de Goiás por cerca de 40  indígenas das etnias  Apinajé, Krahô, Krahô-Kanela, Xerente, Tapuia e Karajá, vindos  dos estados do  Tocantins e de Goiás. O corpo entrou na catedral de Nossa Senhora de Santana pelas  mãos dos indígenas, que realizaram os rituais conforme seus costumes. O rosto  de Dom Tomás recebeu a pintura de urucum e um grande cocar foi   colocado no   caixão, acima de sua cabeça.

 

Dom Tomás foi sepultado na   catedral de Goiás, levando junto bandeiras dos movimentos    sociais camponeses, de  sindicatos e organizações que receberam o apoio de Dom Tomás. Ele era o mestre  e inspirador das lutas, mas também sabia ser rígido e crítico  quando era necessário.   Da mesma forma o fez com governantes e partidos políticos, mesmo  com aqueles  que em algum momento apoiou, mas que em decorrência de sua   atuação, ou da sua não atuação, achou por bem criticar e cobrar. As mesmas críticas  ele estendeu à  Igreja, ou melhor, às igrejas, que se afastavam do compromisso  evangélico de  estar ao lado do povo pobre e injustiçado.

 

Dom Tomás continua vivo nas  lutas do povo pobre da terra de todo o mundo. Sua voz ecoa no grito do camponês   e do indígena que exigem terra para trabalhar e a preservação de  seus territórios.  Seus ensinamentos continuam presentes nas Igrejas que promovem o   povo oprimido.   Seu coração continua a pulsar naqueles que se organizam, naquelas que lutam,  nas fileiras em marcha por esse país, seguindo bandeiras de um mundo mais  justo.

Fonte Assessoria de Comunicacao CPT Nacional

(para ver as fotos acessar a galeria de imagens, em : http://www.cptnacional.org.br/index.php/component/phocagallery/category/21-despedida-de-dom-tomas-balduino-goiania-e-cidade-de-goias-go-3-a-5-de-maio-de-2014)

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