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CPT BAHIA

Separados pelos trilhos da FIOL

 

Mutirão Fiol

O rio de Contas corre em sua paz silenciosa. Ao seu lado a Ferrovia Oeste-Leste segue com a violência característica dos projetos do capital. A Fiol, com 1.527 km de extensão, vai ligar o porto marítimo de Ilhéus (Porto Sul) e as cidades de Caetité e Barreiras, na Bahia, à cidade deFigueirópolis, no Tocantins, para escoamento de minério de ferro, soja, etanol, fertilizantes e outros tipos de cargas que chegarem ao litoral baiano.

O trecho que compõe o Lote 1 da construção está entre os municípios de Barra do Rocha e Ilhéus. Conta com quatro frentes de serviço, localizadas nas cidades Gongogi, Aurelino Leal, Ubaitaba e Itagibá. Em todos esses lugares o que se vê é o abandono das obras e o descaso com os trabalhadores e trabalhadoras das comunidades que são atingidas no processo de construção da ferrovia.

É o caso do Denilson, pequeno agricultor na região de Canoa Virada em Itagibá. O traçado da FIOL passa por dentro de suas terras ocupando mais de 80 metros da sua propriedade. Houve a indenização, no entanto, a VALEC (empresa responsável pela construção) não cumpriu os acordos no que diz respeito a construção de passagens para o gado. Agora os trabalhadores e trabalhadoras tem que andar cerca de 4km a mais para poder atravessar o gado para o outro lado da ferrovia.

Na cidade de Ubaitaba o cenário não é diferente, na comunidade do Vapor o agricultor Hugo e seu irmão, Gildázio, denunciam que não receberam a indenização e que os responsáveis da empresa desapareceram não havendo nenhuma possibilidade de diálogo. A revolta dos familiares aumentou depois do falecimento da mãe dos agricultores, segundo os mesmos a causa do óbito seria as explosões e o sentimento de impotência causado pelo empreendimento. “Nós vamos colocar estacas nos trilhos, vamos resistir”, confessa o Gildázio.

O traçado da ferrovia também passa pelo assentamento do Cruzeiro do Sul. Cortando ao meio plantações de cacau.  o traçado da ferrovia passa por dentro da plantação de cacau do assentamento. Segundo José Bispo, coordenador da CETA – Coordenação Estadual dos Trabalhadores Acampados e Assentados, os acordos fechados durante a negociação com a VALEC, prejudicou os pequenos agricultores do assentamento, pois a indenização não cobria os investimentos feitos na plantação, nem os lucros que seriam obtidos com a mesma.

55 famílias sem informação sobre o retorno das obras. Como herança, descaso e humilhação. A empresa diz que enviará funcionários responsáveis para resolver os problemas mas ninguém aparece. Os agricultores e agricultoras não são contra a ferrovia, mas exigem que todos os seus direitos sejam garantidos.

No entanto, nem tudo é descontentamento. Na cidade de Ipiaú cerca de 40 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST ocupam a mineradora Minerabela e exigem desapropriação de terras para as famílias ali alojadas. As famílias já estão produzindo no local. Existe grande quantidade de abobora, quiabo, tomate, mamão, hortaliças. Toda plantação foi feita sem a utilização de agrotóxico. Segundo, o coordenador da ocupação, todo aquele trabalho também tem o papel político de questionar o modelo de mineração que é utilizado na região.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) fez um mutirão para visitar as comunidades supracitadas com o intuito de produzir material que possa ser utilizado para denunciar o descaso, o não cumprimento dos acordos e a destruição causada por esse monstruoso projeto que não atende aos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, mas sim, os latifundiários e empresas de mineração.

Magno Luiz da Costa Oliveira

CPT Bahia – Equipe Sul/Sudoeste

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