Acesse o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2023

CPT BAHIA

Missão da Terra celebra a vida camponesa no Sertão

Realizada na paróquia de FiladélfiaDSC02819, no dia 30 de agosto, a 36ª Missão da Terra da Diocese de Bonfim reuniu mais de oito mil pessoas de diversos cantos da Diocese. Com o tema “Igreja e Sociedade em Missão a serviço da vida no Sertão” e o lema “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10) os romeiros e romeiras celebraram a fé no Deus libertador que caminha com o seu povo e a esperança para continuar lutando por um mundo de justiça, igualdade, solidariedade e amor ao próximo.

A cada ano se repetem os gestos de fé de um povo que mesmo cansado de tantas injustiças e violação de direitos continua caminhando rumo à realização do Reino prometido por Deus, Javé o Deus dos pobres e oprimidos. Nessa romaria, foi bonito ver grande quantidade de jovens, comprometidos inclusive com serviços na organização, além de pessoas idosas que todos os anos participam da Missão da Terra.

No momento da abertura, além da acolhida calorosa do padre Airton Siqueira, da paróquia de Filadélfia, foram lembradas as palavras do papa Francisco que em sua Encíclica Laudato Si’ denuncia os modelos de sociedade que degradam o meio ambiente e convoca a todos para o cuidado com a casa comum – natureza mãe, da qual somos parte e onde tudo está interligado.

Durante as paradas, foram denunciadas situações que violam os direitos das populações do campo e que degradam a qualidade de vida do povo. Trabalhadores(as) e lideranças falaram dos problemas causados com a destruição da terra e das águas pelas empresas mineradoras, de energia eólica, agrohidronegócio e outras, denunciando as consequências desse modelo de desenvolvimento contra os pobres e clamando especialmente pelo zelo com a Serra da Jacobina, guardiã das águas que abastece praticamente toda a região. Vozes se levantaram ainda contra o alto índice de agrotóxicos usados nas plantações, destacando que cada brasileiro consome em média 7,2 litros/ano de veneno presente na água e nos alimentos.

O grito pela Reforma Agrária foi trazido, junto à denúncia de políticas que têm dificultado o acesso à terra e investimentos nos assentamentos já consolidados, perpetuando a concentração, as desigualdades sociais e os conflitos delas decorrentes. Nesse momento, milhares de romeiros puseram-se de joelhos e, com muita fé, fizeram memória dos mártires da terra, acreditando que estes continuam presentes na luta por justiça.

Outro grito forte da Missão da Terra se deu com a denúncia do atual Congresso Nacional como o mais conservador da história recente nacional que, dia a dia, vem fragmentando as leis trabalhistas conquistadas com muita luta, retomando leis da ditadura militar que criminalizam as manifestações sociais como atos de vandalismo, reduzindo direitos do Sistema Único de Saúde, propondo colocar nossos jovens (pobres, negros) na cadeia com a redução da maioridade penal, criando portarias que impedem o avanço da reforma agrária, flexibilizando as leis ambientais, propondo um Novo Código da mineração e destituindo órgãos de controle para favorecer os negócios das empresas que, além da degradação ambiental e contaminação de nossas águas, causa a expulsão dos camponeses de seus territórios para as cidades, aumentando a vulnerabilidade social.

A 36ª Missão da Terra celebrou também as conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras que, através de suas organizações, conseguiram construir processos de educação para a convivência com o Semiárido, avançando com experiências que deram origem à políticas públicas como a construção de cisternas, entre outros; criaram Escolas Família Agrícola comprometidas com a educação do e no campo; experiências de geração de renda baseada na Economia Popular e Solidária e as conquistas de terra, a organização, a produção e a melhoria da vida de tantos camponeses a partir desse direito.

Para muitos romeiros, a Missão da Terra é um momento de encontro com pessoas queridas, companheiros(as) da caminhada, espaço de manifestação cultural, para outros, é um momento de fortalecer a fé, agradecer a Deus pelas vitórias e fortalecer o compromisso com a luta por um mundo melhor para todos. É também sinal da Igreja comprometida com as questões sociais à luz da Missão de Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo, 10,10).

Quem participou pode sentir o espírito de missão, profecia e esperança presentes em todos os momentos da 36ª Missão da Terra que foi encerrada com a celebração eucarística presidida por dom Francisco Canindé Palhano, bispo da Diocese de Bonfim, com os sacerdotes de várias paróquias e o envio dos romeiros e romeiras para a continuidade da Missão.

Gostou desse conteúdo? Compartilhe