No próximo sábado 10 de setembro, acontecerá a 3ª Romaria do Cerrado, promovida pela Comissão Pastoral da Terra – regional Bahia junto com as paróquias, movimentos sociais, sindicatos e o povo organizado do oeste baiano. A concentração será às 8 horas, no Ginásio de Esportes de Canápolis, em seguida sairá uma caminhada pelas ruas da cidade e uma grande celebração encerra a atividade. Com o tema: “Cerrado em Pé: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida”, o evento já mobiliza a população do município.
Desde o dia 02 de setembro, um mutirão de visitas às comunidades rurais da cidade analisa a realidade local e debate os principais problemas vividos em relação ao Cerrado. São as atividades da 3ª Semana do Cerrado, que precedem a Romaria. Os participantes do mutirão foram divididos em seis equipes e já visitaram 25 comunidades, em três dias. Foram realizadas palestras nas escolas, reuniões, rodas de conversa e visitas às casas. O tema principal dos encontros foi a realidade das águas do município.
A principal percepção dos mutirantes ao longo dos dias de trabalho é de que o município entrou em colapso hídrico, o que preocupa toda a população. Canápolis não possui rios, mas já foi muito rico em água, pois existiam diversos nascedouros que formavam pequenos e médios riachos. Atualmente, existe uma realidade de degradação intensa pela presença humana e forma de produção adotada por estas populações de pequenos agricultores e pelo monocultivo das grandes fazendas no entorno do município.
História – A realização da Semana do Cerrado no oeste da Bahia surgiu a partir da constatação da intensa degradação deste bioma. Sentido a necessidade de “dar voz” e “fazer ecoar” o “clamor” do Cerrado e do seu povo, as comunidades geraiseiras, entidades, organizações e movimentos sociais que atuam na região, tomaram a iniciativa de realizar uma semana de visitas nos municípios da Bahia e do Norte de Minas para levantar a realidade local e no encerramento desta série de visitas uma romaria reuniu todo o povo. Assim surgiram a Semana e a Romaria do Cerrado. A primeira foi realizada em Cocos, em setembro de 2014. No ano seguinte, o tema das reflexões foi a criação do MATOPIBA e as atividades aconteceram em Correntina.
Em 2016, o município anfitrião das atividades é Canápolis, distante 860 km da capital Salvador, com uma área territorial de 460 mil km² e uma população estimada, em 2016, de 10 mil pessoas, segundo o IBGE. É um dos menores municípios do oeste da Bahia e recebeu este nome por conta dos extensos canaviais que existiam na região. Apesar de pequeno Canápolis foi ao longo da história palco de intensos conflitos socioambientais, fruto da ganância dos capitalistas. Dois fatos importantes marcam a história das comunidades locais: o assassinato de Isaias Cândido de Souza, em 11 de setembro de 1985, por conta da luta em pela água e uma Ação Discriminatória Rural, coordenada pelo INTERBA – Instituto de Terras da Bahia, na década de 1980, que identificou registros referentes a três vezes a área real do município.
Campanha do Cerrado – Além do importante trabalho de sensibilização, a 3ª Semana do Cerrado também está em sintonia com a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. O bioma Cerrado é um dos mais importantes do Brasil. Nele esta concentrada 5 % da biodiversidade mundial, onde nascem as principais bacias hidrográficas do país e onde vive uma grande concentração de povos e comunidades tradicionais.
Na Bahia, o Cerrado ocupa 21 % do Território e está concentrado na margem esquerda do rio São Francisco, de onde vêm as águas dos rios Carinhanha, Corrente e Grande, de seus afluentes e subafluentes. Por conta dos inúmeros impactos causados, em especial, pelo Agronegócio surgiu a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado para dar visibilidade aos problemas que afetam este bioma.