“Corrente véio dá água boa e limpa, fazendo o que era seco verdejar”, já diziam os cantores Sá e Guarabyra nos anos 1970, sobre a importância do rio Corrente e seus afluentes para o Povo Correntino.
Está marcada para a manhã do próximo sábado (11/11), em Correntina, no Oeste Baiano, uma manifestação em defesa das águas e dos territórios tradicionais do Cerrado e em apoio aos manifestantes que, no último dia 02 de novembro, em número aproximado de 600 pessoas, realizaram um ato de protesto contra o abuso das águas em duas fazendas no distrito de Rosário.
O município de Correntina está inserido no projeto governamental denominado MATOPIBA, que abrange parte do estado do Maranhão, todo o Tocantins e parte do Piauí e todo o Oeste da Bahia. Trata-se da atual fronteira agrícola brasileira, onde estão localizados os últimos remanescentes de Cerrado, o bioma mais antigo do Brasil e do mundo, de importância vital para o ciclo das águas na América do Sul. A área já teve 62,5 % da vegetação nativa desmatada, conforme apontou o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que se baseou em dados divulgados pelo governo.
Os manifestantes denunciam o uso abusivo das águas do rio Arrojado e o seu baixo nível em consequência do intenso desmatamento, da retirada de água superficial e subterrânea, sobretudo pelas empresas do agronegócio, e das mudanças climáticas. O volume de água retirada pela empresa em que houve a manifestação do dia 02/11 equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16 mil litros, suficientes para fornecer água de beber e cozinhar para 33 mil pessoas na região semiárida por oito meses, entre um período chuvoso e outro.
No ano passado, o Ministério Público da Bahia e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Corrente recomendaram que o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) não concedesse outorgas para grandes empreendimentos na bacia do Rio Corrente – da qual o Arrojado faz parte -, o que não foi acatado.
O Estado, omisso frente aos interesses dos trabalhadores do campo e da cidade de Correntina, tem se posicionado contra o Povo Correntino, ao criminalizar e reprimir o ato acontecido, concentrando a investigação apenas nesta ação reativa da população e não nos crimes fundiários e ambientais e violências que ocorrem na região há mais de 40 anos.
Essa não é a primeira vez que o Povo de Correntina vai às ruas na defesa de seus direitos. E em 2000, fecharam com as próprias mãos um canal que desviava o mesmo Rio Arrojado.
Diante da repressão e da distorção dos fatos por parte da mídia empresarial, é essencial que toda população baiana e brasileira se junte a esta luta dos ribeirinhos, geraizeiros e população urbana pobre de Correntina. Comunidades rurais e urbanas de toda a região, movimentos sociais, organizações e entidades populares, Pastorais Sociais – como nós da Comissão Pastoral da Terra – CPT –, nos solidarizamos à luta popular em defesa do rio Arrojado, das águas e de toda a Vida nos Cerrados.
“Ninguém morrerá de sede nas margens do Rio Arrojado”
“Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida”