Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. (…) Conheço as tuas obras, que nem és frio, nem quente; quem dera foras frio ou quente!
Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha
boca. (Ap 3:13.15-16)
Pastorais do Campo do Regional Nordeste NE 3 – CNBB
Nós, as Pastorais do Campo do Regional Nordeste III (Bahia e Sergipe) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, atentas ao apelo “que o Espírito diz às igrejas” para que não sejamos “mornos”, comprometidas com o Evangelho de Jesus e em consonância com as orientações do Papa Francisco, dizemos com muita convicção que a “Carta ao Povo de Deus”, subscrita por 152 Bispos, tem todo nosso apoio. Porque ela representa as aspirações destas Pastorais e daqueles que apoiamos em nossas missões específicas – indígenas, pescadores/as, quilombolas, trabalhadores/as do campo e da cidade, “os segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta”.
A “Carta ao Povo de Deus” é uma denúncia profética e precisa da realidade que vivemos na Bahia, no Sergipe e no Brasil. É uma convocação a exercermos também a nossa profecia, a concretizar o desejo e o apelo do Mestre Jesus: “Eu vim para que TODOS, tenham VIDA e a tenham com abundância” (Jo 10,10). Ao mesmo tempo, anuncia a perspectiva e a necessidade da Fraternidade e da Justiça, para nós, sinais do Reino de Deus, tão difíceis quanto mais urgentes neste contexto de desesperança e vigência de um projeto de morte, necropolítico, genocida, que não só não enfrenta devidamente, mas manipula a pandemia da Covid-19, que já ceifou perto de 100 mil vidas brasileiras.
No dia 13 de julho de 2020, em carta aos congressistas, a CNBB chamou a atenção aos vetos do Presidente da República ao PL 1142/2020, que estabelecia o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nas terras indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais. A mesma CNBB afirma, no documento, que foi com indignação e repudio que tomou conhecimento, no último dia 7 de julho, que o presidente da República sancionou a lei com 16 vetos. Essa posição do governo atenta contra a Constituição Federal. Com efeito, ao abolir a obrigação de acesso à água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares, terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea. Além de outros aspectos previstos no PL 1142/2020, como alimentação e auxílio emergencial. Os vetos violam o princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, inc. III), do direito à vida (CF, art. 5º, caput), da saúde (CF, arts. 6º e 196) e dos povos indígenas a viver em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (CF, art. 231).
No dia 10 de julho de 2020, nosso Regional Nordeste III fez o lançamento da 6ª Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB, com o tema “Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho”. Os três “Ts” remetem ao discurso do Papa Francisco no I Encontro Mundial de Diálogo com os Movimentos Populares, em outubro de 2014, em Roma: “Digamos de coração: nenhuma família sem teto; nenhum camponês sem-terra; nenhum trabalhador sem direitos”. E acrescentou que “são direitos sagrados” e que “reclamar isso não é nada estranho, é a Doutrina Social da Igreja”. Tais princípios estão sendo frontalmente desrespeitados no atual momento do Brasil, o que nos incita a radicalizar e intensificar nosso compromisso em concretizá-los, enquanto Pastorais Sociais do Campo no Nordeste III.
Por fim, convocamos e apelamos para Pastorais, Movimentos e comunidades cristãs que acreditam na Palavra Viva do Mestre Jesus: “Que Todos Tenham VIDA em Abundância”, que também se manifestem em apoio e solidariedade aos Bispos que assinaram “A carta ao Povo de Deus”.
Via: PASTORAL OPERÁRIA – PO, COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT, CARITAS REGIONAL NE 3
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – CIMI, CONSELHO PASTORAL DOS PESCADORES – CPP