De acordo com o Censo do IBGE, as mulheres brasileiras estão dirigindo mais estabelecimentos agropecuários, sua participação subiu de 12,7% (2006) para 18,7% (2017), além daquelas que compartilham a tarefa com o cônjuge. Apesar desses dados, as desigualdades continuam permeando as relações, como foram analisadas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (2021), elas contam com apenas 30% das terras, 10% dos créditos e 5% da assistência técnica. Mesmo assim, a participação da mulher em diferentes setores produtivos tem significado relevante contribuição econômica, política e social para o avanço do país.
A História tem demonstrado que são as mulheres camponesas as maiores produtoras de alimentos para o próprio consumo e de suas famílias. Estudos apontam que isso se dá porque elas compreendem o princípio feminino que rege a natureza, de cooperação e associação, independentemente de fatores biológicos, isso significa que todos os seres humanos podem agir com cuidado entre si, com a terra, a água e meio ambiente como um todo, construindo espaços de vida e não apenas de produção.
São inúmeras as experiências pelo mundo de mulheres que se organizam em redes de solidariedade, em grupos produtivos, associações, praticam o resgate, conservação, troca e multiplicação das sementes, cultivam hortas, plantas medicinais e pomares. Criam animais, investem nos artesanatos e no beneficiamento dos produtos, e em alguns casos, realizam extrativismos, caça e pesca. Fazendo destas experiências uma prática agroecológica que inclui o bem viver, a segurança alimentar, nutricional, a ancestralidade dos saberes e das relações interpessoais por meio de cuidados e afetos, como também as relações de trocas entre ser humano-natureza, compreendendo-se como parte desta natureza. Portanto, as mulheres camponesas têm um papel fundamental na luta contra a fome e a desnutrição, representando uma força essencial para a soberania e segurança alimentar que precisa ser reconhecida e valorizada.
Contudo, como aponta a pesquisadora em desenvolvimento sustentável, Emma Siliprandi (2009), existem lacunas entre os principais teóricos da agroecologia, com relação aos esforços que vêm sendo feitos para dar visibilidade as contribuições das mulheres agricultoras, na construção dessa corrente de pensamento passando pelos reconhecimentos, da necessidade da participação direta em fóruns onde essas discussões são realizadas e depois pela existência das especificidades trazidas pelas mulheres que participam desses movimentos, ao invés de centrar-se em um campesinato genérico, homogêneo com os mesmos interesses em qualquer circunstância histórica.
É num constante processo de resistência vivenciado pelas mulheres camponesas que se afirma: “sem feminismo não há agroecologia” e nesta luta corajosa que elas seguem enfrentando o avanço do hidroagronegócio, com sua produção de commodities para a exportação, com base em transgênicos, carregados de agrotóxicos e com um modus operandi fundado na violência e na expropriação dos territórios. Além de enfrentar os ataques aos seus territórios de vida e seus corpos, as mulheres fazem a resistência diante das perdas de direitos que são recorrentes, pois se observa nas poucas políticas públicas que geram autonomia para as mulheres, um sucateamento ou extinção, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na alimentação escolar e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf.
Especialmente nos tempos difíceis que vivemos é essencial que se criem condições para fortalecer o empoderamento das mulheres na agricultura, como fala o diretor-geral da FAO, QU Dongyu: “Mulheres e meninas podem desempenhar um papel crucial na resposta à pandemia de COVID-19, especialmente em termos de transformação dos nossos sistemas agroalimentares, devemos todos unir forças para realizar as mudanças necessárias para empoderar mulheres e meninas, especialmente as que vivem em áreas rurais”.
As evidências mostram que quando se amplia as oportunidades para a mulher rurais com o reconhecimento, valorização de seus saberes e práticas. Aumentam-se as opções estratégicas fundamentais na luta contra a fome e a desnutrição. Portanto, é urgente que haja incentivos específicos dos governantes que garantam o protagonismo feminino no campo com acesso adequado à terra, água e tecnologias.
Com a diminuição das desigualdades de gênero, o empoderamento ideológico, político e econômico das mulheres, espera-se melhoria das condições de vida no meio rural sendo este mais justo e solidário.
Por: Nildnea Andrade de Castro, CPT Ampliada do Centro-Norte, Diocese de Bonfim – Bahia. Engenheira agrônoma, especialista em Desenvolvimento Sustentável no Semiárido, com ênfase em recursos hídricos e especialista em Ciências Ambientais