Na manhã desta quinta-feira, 23 de setembro, aconteceu nas ruas de Licínio de Almeida uma passeata realizada por moradores que vêm sofrendo as consequências da poluição causada por pó de minério, extraído pela Bahia Mineração (BAMIN) e cujo escoamento percorre a região. Com concentração iniciada às 09 horas na Praça Sônia Damasceno e munidos de faixas com algumas das suas principais exigências, os manifestantes marcharam em direção ao pátio onde a BAMIN armazena o minério, permanecendo em protesto no local até o final da tarde. Cerca de 400 pessoas participaram da mobilização, que contou ainda com a presença de alguns representantes do poder público, como secretários e vereadores.
A população vem denunciando os problemas desde o início do transporte do minério, e já convocaram várias reuniões para tentar exigir soluções da empresa. Após muitas solicitações, a BAMIN fez um desvio da rota de transporte por fora do perímetro urbano; entretanto, os moradores afirmam que o problema continua, pois o desvio ainda é próximo à cidade, e mesmo sendo feita a umidificação da estrada, isso não tem sido suficiente para impedir que a poeira chegue aos bairros de Gerais e Matinha, que são os mais atingidos tanto pelo pó quanto pela poluição sonora. Além de exigir uma solução para os graves impactos que o minério causa sobre a saúde das famílias, a mobilização também reivindicava o asfaltamento do trecho da BA-156 que liga o município de Licínio de Almeida ao distrito caetiteense de Brejinho das Ametistas – estrada pela qual os caminhões da BAMIN passam com o ferro extraído de Caetité.
Segundo os manifestantes, diversas pessoas, inclusive crianças, estão manifestando crescentes casos doenças alérgicas desde o início do transporte do minério. Juscilene dos Santos, que reside no bairro da Matinha, afirma os moradores não querem indenização ou forro nas casas, pois isso não acabaria com os problemas que a população vem enfrentando: “A BAMIN tem dinheiro e tem condições de armazenar o minério em outro lugar. Está ocorrendo problema com as crianças adoecendo de problemas alérgicos. O pátio precisa mudar para fora do município. Tire o pátio do carregamento. O asfalto vai resolver os problemas das comunidades, mas não resolve o problema da população urbana. O problema é a poeira” – salienta Juscilene.
Lindineia Oliveira, que é vereadora e professora, reside no centro da cidade e explica que as reivindicações envolvem a questão da saúde das famílias que estão sendo impactada com o recebimento desse minério: “as comunidades de Matinha e Gerais estão sofrendo muito”. A vereadora também faz referência ao pátio onde está sendo armazenado o minério extraído do projeto Pedra de Ferro. “O pátio fica em um bairro do município que está sendo sufocado com a poeira. Os bairros de Matinha e a comunidade de Gerais ficam ao fundo do pátio”. Ainda para Lindineia Oliveira, “a mobilização vai pressionar a BAMIN a atender as reivindicações das comunidades, pois há mais de seis meses demora para responder e fica somente de reunião em reunião, sem solução clara para os problemas”.
Essa não foi a primeira mobilização no município, mas até o momento não houve diálogo da empresa com a população para a apresentação de soluções. Enquanto faz propaganda a respeito dos números esperados pelo projeto e acelera seus trabalhos na região, a BAMIN permanece escondendo as consequências da exploração e transporte do minério para a região, fugindo da sua responsabilidade para com a população e para com o meio ambiente, visto que a exploração de minério causa degradação ambiental em níveis trágicos e irreversíveis. Desde o início da pandemia a BAMIN atua com licença provisória no município de Caetité, onde executa o projeto Pedra de Ferro. O minério é então transportado de caminhão até Licínio de Almeida, onde segue de trem pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) em direção ao porto de Tubarão, no Espírito Santo. Com esse trajeto, a BAMIN tem uma capacidade de exploração de 800 mil toneladas de minério por ano. No entanto, com a perspectiva da conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), esse número aumentaria para 20 milhões de toneladas.