A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), promoveu nesta tarde de sexta-feira (16), o V Seminário Questão Agrária: Pés no Chão, para debater os conflitos no campo e a permanência da juventude no campo. Cerca de 180 inscritos, entre alunos formandos, “caroulos” e professores – maioria de negros e negras – dos cursos de Educação no Campo do CETENS – Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade, superlotaram o Auditório Paulo Freire, em Feira de Santana – BA.
Após a apresentação dos dados de conflitos no campo em 2021, no Brasil e na Bahia, documentados pela Comissão Pastoral da Terra, feita pelo assessor da CPT Bahia, Ruben Siqueira, foram feitos aportes provocativos por Gilmara Borges e Kel Silva, formadas e alunas de especialização no CETENS, com foco no papel da juventude em especial, mas também de toda a sociedade, face à questão agrária, essencial para compreender e enfrentar o poder político-econômico dominante no Brasil, há mais de cinco séculos. Coordenada pelo professor Wilon Mazalla, a mesa instigou reações dos participantes, que trouxeram aspectos atuais da questão, inclusive do contexto político-eleitoral e suas graves implicações para a democracia e o futuro da nação brasileira e de toda a sociedade global, como também da natureza, face à crise ecológica. A influência do agronegócio e das igrejas neopentecostais na campanha eleitoral foi ponto de destaque.
A concentração crescente dos conflitos e suas múltiplas violências na Amazônia Legal deixa patente que ali se joga o destino do Brasil e, sem exagero, da sociedade global. Pois sua concentração maior de bens naturais – biodiversidade, minérios, água e oxigênio etc. – atrai a cobiça dos grandes grupos econômicos e o oportunismo de grileiros de terra, madeireiros, garimpeiros, traficantes de armas e drogas etc. As terras de posse ancestral dos povos amazônidas, em especial dos indígenas, têm sido o principal foco desta ação predatória, com as mais violentas consequências, como os assassinatos, que na Amazônia foram 28 dos 35 ocorridos no campo brasileiro em 2021.
O debate trouxe também questões relativas ao avanço de empreendimentos no campo baiano, como os de mineração, energia eólica e solar, imobiliária/turismo, além do agronegócio, que longe de resolver, acirram o problema secular do impedimento do acesso, posse e garantia da terra aos sem-terra, pequenos agricultores, povos e comunidades tradicionais. Chama a atenção que a Bahia teve o maior número de conflitos por água, em 2021 – 80, causados sobretudo por mineradoras.
Segundo a professora Kássia Rios, que coordenou a promoção do evento, “os lançamentos dos cadernos Conflitos no Campo, da CPT, já na 6ª edição, consistem em momentos de formação dos discentes. Os cadernos da CPT servem como base a diversas ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas no Centro. Atualmente, os Cursos de Educação do Campo do CETENS possuem alunos oriundos de 40 municípios baianos e 12 Territórios de Identidade; representam centenas de famílias que vivenciam cotidianamente esses conflitos e suas terríveis consequências. Portanto, discutir esses dados é muito importante na formação de profissionais críticos e conscientes da realidade sócioterritorial vivida no campo baiano”.