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CPT BAHIA

Diocese de Bonfim realiza 4ª Semana Social

Durante os dias 14 e 15 de abril, a Diocese de Bonfim, através das Pastorais Sociais, realizou a sua 4ª Semana Social Brasileira, com o tema “Mutirão pela vida: Por Terra, Teto e Trabalho”. O evento foi realizado no Centro Diocesano de Pastoral em Senhor do Bonfim, com a presença de diversas organizações, movimentos sociais, pastorais e comunidades do território, contando com três oficinas relacionadas à temática central.

A Semana Social Brasileira (SSB) é uma iniciativa da Igreja Católica em articulação com movimentos populares e outras organizações da sociedade na busca da construção de propostas para o Brasil que queremos, a partir do aprofundamento de experiências e Bem Viver dos Povos. Em nível nacional, está em curso a 6ª Semana Social, que vem de um percurso de ampla articulação e escuta em diferentes níveis, conforme explica Jardel Lopez, coordenador da 6ª SSB.

“Já são mais de 30 anos de experiência de Semanas Sociais Brasileiras, uma experiência herdada da Europa, principalmente da França e da Itália. Nós estamos desde 2019 preparando esta 6ª Semana, iniciamos em 2020 e encerraremos em novembro de 2023. É um processo convocado pela Igreja, discutido conjuntamente pelos movimentos populares e traz o tema ‘Mutirão pela vida, por terra, teto e trabalho’, que é inspirado no Encontro Mundial do Papa Francisco, com os movimentos populares. Aprofundamos essa discussão nas paróquias, nas Dioceses, nos regionais e em nível nacional com outras organizações sociais, com o intuito de discutir as questões estruturais que causam desigualdade na sociedade, como o latifúndio que produz um grande número de pessoas sem terra ou com acesso precário, um grande número de desempregados ou no subemprego, e um grande número de pessoas vivendo nas ruas, em condições sub-humanas ou com acesso em condições precárias”, comenta Lopez.

No território da Diocese de Bonfim, a 1ª Semana Social foi realizada em 1998, no auge da participação de padres, leigos, leigas e bispos que priorizavam este aspecto da ação social da Igreja. A 4ª Semana Social de Bonfim ocorre em um contexto eclesial distinto, mas que gera expetativa no sentido de fortalecimento da articulação, solidariedade e ações concretas frente aos problemas estruturais que afligem a vida do povo, conforme destaca o padre Luís Tonetto, pioneiro na organização das Semanas Sociais na Diocese.

“Esta é a 4ª Semana Social e está acontecendo num momento em que no geral, muitos da própria Igreja não se interessam e não querem se interessar por essas problemáticas, que são questões da vida das pessoas. Na Diocese de Bonfim, a gente sempre realçou que a população maior é uma população agrícola e que, portanto, há necessidade de fazer um trabalho com este povo agricultor, seja em relação à sua organização, à reivindicação de direitos, seja a construção de um trabalho que possa ir além do interesse imediato da comida; da terra… já é um fator bem importante. Por isso, na roda de conversa sobre a terra, vimos a necessidade de sair para os agricultores, suas organizações e falar sobre os problemas da terra. Diria até que devíamos voltar aquele momento que na própria Diocese se falava da ocupação, da organização, da defesa dos acampamentos, dos assentamentos e havia também solidariedade na sustentação dessas expressões de luta do povo”, ressalta padre Luís. 

Neste sentido, os debates nas rodas de conversa “Terra”, “Teto” e “Trabalho”  aprofundaram questões estruturais, geradoras das desigualdades e sofrimento humano com foco principalmente na construção de propostas de enfrentamento aos desafios, a partir de experiências concretas e compromissos assumidos, conforme está descrito na Carta da 4ª Semana Social da Diocese de Bonfim.

Entre os principais elementos da discussão, destaca-se a integração das Pastorais Sociais com os Movimentos Sociais na Diocese e a perspectiva de fortalecimento deste processo; a presença das juventudes, a importância de valorizar e potencializar esta presença, os espaços de acolhimento, formação, articulação e engajamento dos/as jovens.  

A jovem Simone Viana, da comunidade quilombola de Riachão, no município de Filadélfia, BA, reafirmou a importância da Semana Social como um espaço de escuta, visibilização das problemáticas sociais e busca de soluções conjuntas. “Eu participei da oficina com o tema trabalho e o que mais me chamou a atenção foi a abertura de espaço, o momento de escuta e de fala, e saber que alguém escutou. Não ficou só pra nós o nosso grito de apelo, de socorro pela libertação da juventude que está sendo aliciada para o trabalho escravo, uma realidade que acontece em muitas comunidades rurais, não só na minha, onde os jovens acabam saindo de suas casas, de suas famílias no pensamento que vão encontrar melhoria e acabam sendo escravizados nas  grandes fazendas, nas produções de produção de café, laranja, e muitas outras. Hoje em dia vem muitas políticas públicas para as comunidades, mas nossas famílias, nossos povos não têm como implantar porque o acesso à terra é muito pouco, os jovens poderiam ficar nas comunidades, trabalhar, mas como se não tem terra?”, desabafou Simone.

Texto: CPT Diocese de Bonfim

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