Neste Dia do Cerrado 2024, comemoramos, sim, a resiliência do bioma e de seus povos, mas, ainda mais angustiados, denunciamos a aceleração do seu fim! Vamos deixar que aconteça? Ainda é tempo de salvar o que resta!
O mais antigo dos biomas atuais do planeta, formado entre 60 e 65 milhões de anos, consolidado há 50 milhões de anos, está naturalmente em declínio. O que levaria outros tantos milhões de anos, não fosse a ganância destrutiva, centrada na voracidade cega do Capital! Em cerca de meio século, já perdeu cerca da metade de sua complexa e rica vegetação nativa.
Não lhe garantiu preservação cobrir 25% do território nacional, o único presente em todas as regiões do país, uma das maiores biodiversidade do mundo, a flora mais biodiversa, com cerca de 12.000 espécies conhecidas, das quais mais de 4.000 são endêmicas (que só existem ali), 220 plantas alimentícias e medicinais, e ainda ter 2.653 espécies de animais vertebrados, 5% da fauna mundial e e um terço da fauna brasileira.[1] E ser a propalada “caixa d’água do Brasil”, a “cumeeira da América do Sul”, com seus três grandes aquíferos – Guarani, Bambui e Urucuia, que alimentam cinco das principais bacias hidrográficas – Paraná/Plata, Paraguai, Amazônica, Parnaíba e São Francisco.
Desconsiderado em sua importância, alvo principal da expansão agropecuária, focada em poucos produtos para exportação (“commodities”), o Cerrado sofreu mais desmatamento do que a Amazônia em 2023: 61% do total, 68% a mais que em 2022. No MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) se deu quase a metade do desmatamento do país em 2023.[2]
O Cerrado não admite restauração, não há como replantar espécies cujo ciclo pode atingir até mil anos, como o capim-barba-de-bode[3]. A salvação possível do Cerrado passa, necessariamente, por seus povos e comunidades tradicionais – indígenas, quilombolas, geraizeiros, extrativistas, ribeirinhos-pescadores, fundos e fechos de pasto -, cuja antiguidade e sustentabilidade do seu modo de vida conserva boa parte do que resta. Ao invés da política extermínio – ecocida e genocida -, urge identificar, demarcar, titular e apoiar seus territórios! E aprovação urgente da PEC 504, que reconhece o Cerrado e a Caatinga como patrimônios nacionais!
Quanto ao agro-hidronegócio, nada de “tec, pop e tudo” e, sim, o “fogo” que está queimando o Brasil, chega! MATOPIBA, não! Moratória para o Cerrado já!
Fontes:
[1] ISPN. Fauna e flora do Cerrado. Instituto Sociedade População e Natureza, s/d. Disponível em: https://ispn.org.br/biomas/cerrado/fauna-e-flora-do-cerrado/. Acesso em: 11set24.
[2] BOEHM, Camila. Área desmatada do Brasil cai 11,6%; no Cerrado, sobe. Agência Brasil, 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-05/area-desmatada-no-brasil-cai-116-diz-mapbiomas. Acesso em: 11set24.
[3] FELLET, João. Como as raízes do Cerrado levam água a torneiras de todas as regiões do Brasil. BBC Brasil, 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39391161. Acesso em: 11set24.
Texto: Comunicação CPT Bahia.
Foto 1: Sonara Barreto. Foto 2: Iana Falcão.