Nos dias 15 e 16 de fevereiro, foi realizado o último encontro da formação “Jovens Comunicadores das Águas – Construindo Pontes para a Governança das Águas na Bacia do Paraguaçu”, no Centro Territorial de Educação Profissional Chapada Diamantina (CETEP) de Wagner, Bahia. O curso, que envolveu jovens de oito comunidades diferentes, professores, agentes da equipe Centro-Norte da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e integrantes de organizações sociais, proporcionou uma imersão na comunicação aliada às questões ambientais.
Para Jérsica da Cruz, que faz parte do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e foi cursista na formação, o curso foi essencial tanto para ela quanto para os jovens que convocou para participar. Segundo ela, o aprendizado adquirido superou suas expectativas. “Eu já gostava de gravar, mas não sabia que poderia fazer um filme. Ainda mais com uma temática tão interessante e importante para os dias atuais”, relata.
Os cursistas exploraram diversas linguagens comunicacionais, desde o uso de fotografias e ilustrações para discutir as múltiplas identidades, até a elaboração de roteiros e peças audiovisuais retratando a realidade das águas nos Territórios de Identidade da Chapada Diamantina, Piemonte do Paraguaçu, Recôncavo e Bacia do Jacuípe. A formação foi conduzida pelos assessores Diosvaldo Filho e Rose Caroline, ambos mestres em Ciências Ambientais e jornalistas.
Exibição de Curtas-Metragens marca o encerramento da formação
No último encontro, os participantes apresentaram quatro curtas-metragens produzidos ao longo da formação. Os jovens se dedicaram à escrita de roteiros documentais e ficcionais, abordando mitos, memórias e desafios relacionados às águas.
Uma das produções foi uma animação que conta a história de Nyra, uma gigantesca cobra mística protetora das águas pretas do rio Paraguaçu, criada por Pamela, Vitória, Geovana, Julia, Manuela e Ranielly.
Outro curta abordou a lenda do “Nego D’água”, um ser encantado protetor das águas, produzido por Íris, Valdeir, Érica e Lucília.
Já um terceiro documentário resgatou as memórias e a importância histórica de um chafariz na periferia de Morro do Chapéu, com autoria de Terezinha, Michele, Laimara, Aryadina, Adriele e Laira.
Por fim, a produção ficcional “O melhor amigo do peixe” trouxe um enredo envolvente sobre um mistério das águas do Paraguaçu, idealizado pelos cursistas Jersica, Emili, Juan, Igor e Felipe.
Carta Manifesto dos Jovens Comunicadores das Águas: um compromisso com a preservação
Durante o último encontro, os jovens também participaram da elaboração de uma Carta Manifesto das Águas, um documento construído coletivamente que expressa as preocupações e compromissos da juventude com a defesa dos recursos hídricos. O manifesto destaca a importância da preservação das nascentes e rios, a valorização dos saberes tradicionais e a necessidade de políticas públicas efetivas para garantir o acesso justo e sustentável à água.
Em um trecho da carta, destaca-se:
“Nós, jovens comunicadores das águas, filhos e filhas dessas terras, das comunidades rurais, ribeirinhas, pantaneiros, indígenas, camponesas, quilombolas, caatingueiros, ficheiros e assentados da reforma agrária, somos parte dessa história viva. Crescemos às margens de rios que são fonte de sustento, de aprendizado, de brincadeiras e de ritos sagrados. Aprendemos com os nossos ancestrais sobre a importância de respeitar e proteger as águas, pois sabemos que sem elas não há vida. Hoje, vemos com preocupação o que está acontecendo com as nossas águas e com as comunidades que dependem delas.”
No último encontro, também foi criada uma plataforma online de monitoramento das águas dos rios dos territórios mencionados. A plataforma pode ser acessada através do link: https://comunicadoresdasaguas.my.canva.site/. No site, é possível assistir às produções dos alunos, visualizar os objetivos e lutas dos jovens, bem como a Carta Manifesto.
Manuela Monteiro, também cursista, avalia positivamente e com bastante entusiasmo as produções dos colegas e fala sobre a importância que o curso teve na sua mudança de percepção dos rios. “Eu olhava para o rio como apenas um rio. Depois de todas as discussões, eu percebi o quanto o rio é vida e o quanto ele é importante para as nossas comunidades. Por isso, nós temos que defendê-lo sempre.”
Com esse encerramento, a formação “Jovens Comunicadores das Águas” reafirma o papel fundamental da comunicação como ferramenta de mobilização e empoderamento social, fortalecendo o protagonismo juvenil na luta pela governança das águas.