Na manhã do último domingo, dia 18 de maio, foi realizada a 13ª Romaria em Defesa da Vida, em Campo Alegre de Lourdes (BA). Organizada pelo Fórum de Entidades Populares desse município, do qual a Comissão Pastoral da Terra (CPT) faz parte, e pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, a romaria reuniu centenas de romeiros e romeiras de diversas comunidades e de outros municípios da região para celebrar a vida, fortalecer as caminhadas de luta e reafirmar o compromisso das comunidades tradicionais com a justiça social e o cuidado com a Casa Comum. A temática de reflexão da romaria, Peregrinos da esperança, na construção da Ecologia Integral, estabeleceu vínculo direto com o tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2025, Fraternidade e Ecologia Integral, que foi motivada, dentre outras razões, pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Não sem razão, o lema da CF 2025 nos convoca a refletir e dirigir nossas ações na direção do cuidado com a Casa Comum: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
Seguindo a tradição iniciada em 2011, romeiras e romeiros se reuniram na comunidade do Barreiro e, de lá, caminharam até o pé do Morro do Tuiuiú, patrimônio natural do município. No trajeto, como de costume, foram realizadas duas paradas destinadas à reflexão a respeito dos direitos das populações locais e das ameaças aos seus modos tradicionais de existência. Numa delas, Anselmo Ferreira, agente da CPT e morador da comunidade tradicional de fundo de pasto Baixão dos Bois, provocou a reflexão do povo reunido ao declamar um cordel de sua autoria. Um dos seus versos chama a atenção para as mazelas provocadas pela extração mineral realizada no município há duas décadas: “Hoje nossa revolta é a tal revolução, é o ‘progresso’ regresso que destrói a condição do nosso povo viver, que faz o povo sofrer com a tal mineração”. Palavras declamadas, mas também palavras escritas, pois os cartazes carregados por romeiros e romeiras traziam mensagens convergentes com os enunciados da Ecologia Integral e de resistência aos efeitos mortíferos da mineração: “Cuidar da Terra. Cuidar da vida”, “Juventude em defesa da vida e contra a mineração”, “Com Maria Mãe de Deus somos convidados a cuidar e defender a Mãe terra”.
A respeito dessa ênfase dada aos efeitos da extração mineral na região é importante sublinhar que:
1) a comunidade de Angico dos Dias e o seu entorno sofrem com a exploração de fosfato feita pela empresa Galvani desde 2005;
2) outras comunidades têm sido frequentemente assediadas para pesquisa e implantação de empreendimentos minerários;
3) em 2023, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) anunciou com entusiasmo a descoberta de uma Província Metalogenética no Norte da Bahia, um polo mineral que abrange os municípios de Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova e Campo Alegre de Lourdes, com potencial para exploração de minerais como ferro, titânio, vanádio, níquel, cobre, cobalto, fosfato, ferro, ouro, metais base e terras raras, podendo chegar a uma área de 100 km de extensão;
4) no início de dezembro de 2024, cerca de 20 comunidades tradicionais de fundo de pasto, do município de Campo Alegre de Lourdes, sofreram uma série de invasões de funcionários e maquinários da Geosol, empresa que presta serviço terceirizado à CBPM, provocando a supressão de vegetação nativa, sem a permissão e diálogo com os/as trabalhadores/as rurais; e, finalmente,
5) de acordo com dados levantados pela CPT, mais de 80% do território do município está mapeado para mineração.
Mas além de denunciar as injustiças, a romaria é uma celebração das lutas e fortalecimento da caminhada das comunidades da região. No pé do Morro do Tuiuiú, a missa concelebrada pelos padres Bernardo Hanke e Laerte Martins Souza, foi marcada pela leitura dos Atos dos Apóstolos (14,21b-27) e do Livro do Apocalipse de São João (21,1-5a). Convidados a permanecerem firmes na fé, romeiros e romeiras refletiram a partir da homilia do Padre Bernardo, que correlacionou o racismo, as injustiças e a opressão ao pecado, bem como a chegada das mineradoras ao bloqueio do acesso à terra para as comunidades. Apenas com o sim a Deus, que consiste em amar uns aos outros, amor que é compromisso com aqueles que sofrem, porque Jesus morreu por todos, que poderemos ver um novo céu e uma nova terra, onde não haverá mais opressão e violências.
Pela décima terceira vez, a Romaria em Defesa da Vida de Campo Alegre de Lourdes propiciou às romeiras e aos romeiros esperança em face das lutas que se anunciam e fé na promessa de que terão vida e vida em abundância!