Contemplando a situação terminal de tantos rios brasileiros – só no Norte de Minas se fala na extinção de aproximadamente 1200 rios e riachos -, parece que a gente tem que chorar a última lágrima sobre seus leitos secos. Aquele verso de Guimarães Rosa, retomado por D. Luís Cappio em seu baião – “Meu Rio de São Francisco, nessa longa turvação, vim te dar um gole d’água e pedir tua benção” – contem mesmo algo de profético.
Então, quando os discursos acabam diante dos fatos, a gente muitas vezes recorre à poesia, à música, mais para consolar a própria alma que para tentar modificar a realidade.
Nesse sentido, envio minha música “Rios” – letra e áudio – feita há mais de dez anos, onde a gente sonhava com nossos rios vivos e revitalizados.
Para alguns a esperança é a última que morre. Para Casaldáliga a esperança não morre jamais.
RIOS
Autor: Roberto Malvezzi (Gogó)
Interpretação: Coral Proestudio (Paulo Afonso-Ba)
Arranjos: Luciel Rodrigues
Rios
Que rolam suas águas da nascente até a foz
Deságuem suas águas e batizem todos nós.
Todos os rios mirins
Todos os Mearins
Em cada Pindaré, em cada Subaé….
Existe um rio correndo em nós
Os rios do Pantanal,
Araguaia, Tocantins
Os rios de toda a Terra
Nilo, Tejo,
Mississipi, Ganges, Volga
Dançam a valsa do
Danúbio Azul
Águas negras do Negro
Em todos corações
Existe um Solimões…
Em cada rio nascente
Em todo afluente
Rola uma gota d‘água
Tem uma ponta d’água
Existe um fio de água
Apontando o oceano azul.
Em cada rio bendito
Existe um São Francisco
Existe um Parnaíba, Paraíba,
E nas Águas Emendadas
Nas Águas Espalhadas
Um Rio Grande, um Paraná, um Prata.
Rio Branco, Rio das Velhas, Madeira
Riozinho de esperança, os rios de nossa infância
Potirendaba, Barra Grande, Borá.
Rio secos do sertão,
Rasgando os corações
Que brotem as nascentes
Que jorrem os afluentes
Que a chuva molhe a terra
E fecunde o chão
E a vida se refaça
Nos mistérios da ressurreição
Somos todos água
Todos somos rios
Em cada rio que morre,
Morremos todos nós
Em cada rio que vive,
É o Amazonas desaguando em nós.