Em razão da fé que move Marina Silva, ela deve estar se perguntando, de forma absolutamente perplexa, o que afinal Deus quer com ela. Para muitos esse já é um problema de Marina na política.
Outros dirão que é apenas fruto do acaso e, outros ainda, que ela não passa de uma oportunista.
O fato é que Marina, talvez num dos maiores tapetassos da história política brasileira, foi impedida de criar seu partido – a REDE – e assim poder concorrer às eleições presidenciais de 2014.
Então, num gesto surpreendente, ofereceu-se a Campos para uma coligação em cima de um programa ainda a ser totalmente revelado, mas que contem propostas interessantes, como a questão da saída para uma nova matriz energética, baseada em fontes mais limpas e perenes. Para alguns foi um golpe de mestre, para outros um suicídio político. Essa foi a fala de um de seus assessores diretos, Pedro Ivo, no Fórum Mundial de Energia acontecido em Brasília recentemente. Eduardo Campo ainda estava vivo.
O que ninguém poderia prever é que ela, em razão de um acidente trágico, fosse elevada novamente à candidata presidencial, seja pela mão do Deus que ela crê, seja pela mão da fatalidade.
Claro que o cenário político muda totalmente. Marina tem inúmeras contradições como política. Ao mesmo tempo que favoreceu a Transposição do São Francisco como ministra, opôs-se ferrenhamente às mudanças no Código Florestal. A crise da água que atinge todo o território nacional já deu razão àqueles que se opunham a tamanha aberração ambiental.
O povo brasileiro não quer mais o PSDB. Pode ser qual for o candidato. O partido está ligado às privatizações vis, a entregue do patrimônio público ao setor privado, ao arrocho salarial, ao estrangulamento das aposentadorias, assim por diante. O PSDB, representa por excelência o interesse do grande capital, apoiado pela grande mídia. O povo sabe, quer mudanças, mas não voltar atrás.
Quanto ao PT, não há como negar as conquistas dos últimos anos em favor da população mais empobrecida. Nosso povo não pode abrir mão da melhoria do salário mínimo, da expansão da educação, do Mais Médico, da expansão do acesso à água para populações pobres do Nordeste, da expansão do emprego, enfim, da elevação do IDH que aconteceu nos últimos anos. Mesmo o Bolsa Família ainda continua necessário para milhões de pessoas. Porém, as ruas já disseram que o país quer mudar, mas para frente. Entretanto, nenhum candidato da oposição poderá dizer-se contra essas conquistas, até porque, se o disser, perde.
Mas, o PT estacionou na história e permanece com a mesma concepção crescimentista do século XIX e XX. Os sucessivos governos petistas fazem vistas grossas à degradação ambiental que compromete nossas riquezas naturais básicas como água, solos e biodiversidade. Além do mais, não consegue impor limites ao agronegócio que invade territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais. Favorece grandes empreendimentos extremamente duvidosos para o bem do país para agradar com certeza as empreiteiras e financiadores de campanha. Além de tudo, uma parte de seus dirigentes desprezou a dimensão ética da política, que se é uma hipocrisia por parte da elite, para grande parte do povo ainda é importante.
Os pequenos partidos políticos, principalmente os de esquerda, tem nobreza em seus ideais, disposição de luta e defesa de uma justiça mais estrutural no país. Entretanto, quando pesa o fator eleitoral, eles não decidem.
Nesse cenário, com todas as contradições – próximos dela dizem que a aliança com Campo foi praticamente uma decisão unilateral – Marina ainda aparece como diferente. Pode ser que a intuição popular esteja enganada, mas é o que sugere a atual conjuntura política. Para muitos Marina é frágil e inconsistente. O debate eleitoral talvez possa dirimir a dúvida de muita gente.
A história surpreende novamente. A tendência é que haja segundo turno, provavelmente entre Marina e Dilma. Nesse caso, a fatalidade da história será também o funeral político do PSDB.