O agricultor Edízio Catarino, 63 anos, morador da fazenda Manoel Vicente, em Caetité-BA, vive há 35 anos da produção de sua pequena propriedade no sítio Barroca, cultivando produtos como feijão, milho, verduras, hortaliças e algumas frutas.
Há dois anos, quando foram iniciadas as obras da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), seu sítio foi cortado ao meio por um trecho da obra e Edízio viu grande parte da sua produção ser destruída.
O projeto da Fiol, com 1.527 km de extensão, vai ligar o porto marítimo de Ilhéus (Porto Sul) e as cidades de Caetité e Barreiras, na Bahia, à cidade de Figueirópolis, no Tocantins, para escoamento de minério de ferro, soja, etanol, fertilizantes e outros tipos de cargas que chegarem ao litoral baiano.
Um desses trechos passará pela propriedade de Edízio. Segundo o agricultor, a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A, que administra a obra, contratou 80m de largura e mais 500m de extensão do seu terreno, depois a largura foi aumentada para 110m e até o momento a empresa não fez o pagamento do valor restante.
“Além disso, a Valec se comprometeu a fazer o bueiro no trecho da Fiol que corta a propriedade para não deixar as enxurradas entrarem e garantir a passagem para o gado, no entanto isso não foi feito e o sítio está com entulho na parte baixa”, disse.
Edízio conta que o terreno está praticamente inutilizado com as enxurradas aterrando as plantações e prejudicando a produção, o rio foi entulhado e a rede de água que tinha a 800 metros ficou inutilizada.
O agricultor já procurou a empresa para solucionar os problemas que tem enfrentado, mas recebeu promessas e nada foi feito.
Estragos
Não é somente este estrago que as obras da Fiol vêm provocando, outros moradores da região também estão com cercas quebradas, plantações morrendo, poços e barragens aterradas, sem contar os impactos socioambientais. Como forma de reivindicação, os moradores fizeram fotografias e registraram uma denúncia no IBAMA, além disso, alguns agricultores contrataram um engenheiro ambiental particular para analisar os impactos.
No dia 26 de janeiro, as explosões realizadas pelas empresas responsáveis pela obra no trecho da comunidade de Curral Velho, em Caetité-BA, provocou arremessos de estilhaços de pedra a mais de 200 metros do trecho da obra, atingindo diretamente uma residência da comunidade causando diversos estragos. Os moradores contam que esse tipo de acidente se tornou recorrente, como aconteceu na comunidade de Serragem, do mesmo município, em 2014.
A reivindicação dos agricultores é que a Valec faça a limpeza das propriedades e os indenize pelos danos causados. “Se eu soubesse que seria assim não teria deixado o trecho passar em minha propriedade, teria defendido o quanto pudesse, pois por onde eles passarem, se for terreno produtivo, eles acabam com tudo”, desabafou Edízio.
A obra da Fiol, estimada em R$ 4,5 bilhões, tinha previsão de conclusão em 2013, mas foi adiada para 2016 e não apresenta condições estruturais que apontem a possibilidade de ser concluída até esse período