A história do nosso país está marcada essencialmente pelos conflitos relacionados à terra. Neste cenário, a CPT – Comissão Pastoral da Terra – exerce um papel primordial no sentido de assessorar e auxiliar as comunidades rurais que sofrem constantes ameaças ao seu território tradicional.
Como etapa do trabalho desempenhado pela CPT no auxílio à luta e à resistência das Comunidades Tradicionais foi realizado no mês de setembro de 2015, na região Sudoeste do Estado da Bahia, em comunidades dos municípios de Cordeiros, Tremedal, Pindai, Tanque Novo e Caetité, intercâmbios que, além dos membros da Comissão, contou com a presença de militantes Articulação Estadual de Fundo e Fecho de Pasto da região Norte da Bahia. Tal evento objetivou uma troca de experiências, haja vista as semelhanças entre os problemas enfrentados por ambas as regiões. A comitiva foi formada, ainda, pela presença da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – pois, encontra-se em desenvolvimento um trabalho de pesquisa que tem como objeto de estudo a identificação das formas de uso, organização e ocupação das terras tradicionais no município de Cordeiros e ao mesmo tempo dar visibilidade a luta destas Comunidades Tradicionais.
Foram realizadas reuniões nas comunidades visitadas no intuito de discutir a importância de lutar pela defesa do seu território, tendo em vista os inúmeros problemas provocados pela monocultura do eucalipto, além das ameaças de empresas mineradores entre outros projetos de grande expressão, a exemplo da energia eólica. Tais empreendimentos comprometem desde a preservação do bioma Cerrado, bem como o modo de vida tradicional destas comunidades, tutelado, inclusive, em nossa Lei Maior e na Constituição do Estado da Bahia.
As ameaças vivenciadas nestas visitas foram: perda de autonomia das áreas de solta, conhecidas como Fundo ou Fecho de Pasto, ou popularmente, solta nas largas dos gerais, secamento de nascentes, grilagem das áreas de solta, nomocultivo de eucalipto nos gerais, desmatamento das áreas de recarga de nascentes, extinção de espécies nativas a exemplo do pequi e outras plantas usadas como remédio natural, mineração entre outros. Com isso, estas ameaças aos territórios de uso comum estão sendo assaz reduzidos pelo avanço ilegal do capital, que utiliza de meios ilícitos para adentrar no território destas comunidades.
Como culminância do intercâmbio, realizou-se também encontro na sede do município de Cordeiros com representantes do Poder Público, da Igreja e das comunidades destes municípios. Dentre algumas pistas de ações desenhadas pelos integrantes deste encontro destacam-se a necessidade de pressão junto aos órgãos públicos responsáveis pela regularização fundiária para que proceda a demarcação dos territórios das comunidades, fortalecimento da articulação local e estadual, maior envolvimento das Igrejas nesta luta, envolvimento do povo da cidade na defesa do Cerrado.
O fortalecimento desta luta é necessário, visto que as formas tradicionais de uso e ocupação desses territórios solidificam a identidade de um povo ligado umbilicalmente ao seu modo de vida e que merece respeito e proteção de toda a sociedade.