Nos dias 11 e 12 de novembro do ano em curso, a CPT Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA, realizou a sua 36ª Assembleia de avaliação e planejamento, tendo a participação de 35 pessoas, representantes de comunidades impactadas pelos projetos do capital, de movimentos populares e entidades parceiras.
Na oportunidade, após uma bonita celebração inspirada no tripé motivador do 4º Congresso da CPT: memória, rebeldia e esperança, o pe. Ary, das Pastorais Sociais da CNBB, conduziu uma análise de conjuntura onde destacou a crise do aumento das desigualdades no cenário mundial, na América Latina e no Brasil. “No mundo, 1% da população possui 50% das riquezas; 80 multimilionários possuem a mesma riqueza de 50% da população mais empobrecida. Além disto, existe enorme dificuldade de gerar resistências ao modelo vigente”.
No Brasil, além da tragédia causada recentemente pela mineradora Samarco/Vale do Rio Doce com o rompimento de uma de suas barragens de Rejeitos em Mariana-MG e o jogo de forças apoiados pela grande mídia, considerou-se também a crise humanitária vivida pelos povos indígenas que tem vivido fortes processos de violências a exemplo dos Guarani Kaiuwá (MS) e a histórica violação aos seus direitos,por outro lado, os povos indígenas fazem frente a mobilizações, retomadas e diversas outras formas de resistências por todo o país, contra a PEC 215 e pela demarcação dos seus territórios.
Em relação ao Brasil, destacou-se que embora seja considerado um país emergente – sétima potência, ocupa a 80ª posição em termos de IDH. Essa desigualdade está na origem do país, que nasceu como empresa e não como nação, tendo uma trajetória de clientelismo e elitismo. Até hoje o Brasil permanece com as estruturas coloniais, mantendo o modelo da casa grande e da senzala (300 milhões de hectares de terra grilados no país) e persiste a mentalidade colonial que se exemplifica nas desigualdades regionais e na discriminação sofrida pelos diferentes povos tradicionais.
Com o governo Lula o Brasil reafirma o neodesenvolvimentismo e o compromisso com os grandes projetos que disputam os territórios, tendo total apoio e investimentos do Estado e que são fortalecidos pelo Congresso Nacional Brasileiro representado pelas “bancadas do Boi (Ruralista), da Bíblia (Evangélica) e da Bala”.
Outro aspecto relevante foi os sinais de resistências que animam a caminhada do povo e da CPT junto aos camponeses(as), neste sentido, o pe. Mário, da Paróquia de Monte Santo, ajudou a olhar para a caminhada hoje, a luz do caminho percorrido pelo povo de Deus na Bíblia.
Ao longo da Assembleia, destacou-se as posições do papa Francisco que aponta para uma Igreja mais comprometida com as questões sociais, com os pobres e com a ecologia – “o cuidado com a casa comum”. Outros sinais de esperança trazidos foram: a organização do povo frente aos grandes projetos do capital, o modo de vida camponês e das comunidades tradicionais, as formas de organizações comunitárias, o Grito dos Excluídos, a Missão da Terra, as experiências agroecológicas que contrapõem o modelo do agronegócio, as experiências de educação do Campo a partir das Escolas Famílias Agrícolas, a presença das juventudes e das mulheres nos processos de luta, a presença e a atuação dos leigos e da CPT comprometida com uma igreja do caminho e do serviço que liberta – experiência de Deus do êxodo e do Bom Samaritano.
Como indicativo para o próximo ano, a Assembleia apontou para o fortalecimento dessas luzes, para a articulação conjunta das Pastorais Sociais e dos movimentos populares na região, para a organização da CPT ampliada, de fóruns de entidades e para a potencialização da formação apontando para a necessidade de se trabalhar temas como fé e política, os documentos do papa Francisco, a Campanha da Fraternidade 2016, a continuidade do Curso LIDERAR, o fortalecimento da espiritualidade evangélica, profética, missionária e libertadora, o fortalecimento da Missão da Terra na Diocese de Bonfim e a realização do Grito dos Excluídos como um momento de “unir os generosos e as generosas em torno de um projeto de sociedade em que a vida seja assumida em todos os sentidos, comprometido com a justiça do Reino, com a Boa Nova anunciada por Jesus Cristo.