A 2ª estação da Via Sacra, na 3ª Romaria do Cerrado (veja mais), que aconteceu no dia 10 de setembro, em Canápolis, homenageou a Memória dos Mártires, pessoas que dedicaram a vida na defesa dos direitos humanos. São histórias como a de Isaías Cândido de Souza, lavrador e sindicalista de Canápolis, assassinato por lutar pela defesa da terra e da nascente na comunidade de Mosquitão. Veja a íntegra do depoimento feito pela filha de Isaías, Valdete.
11 de Setembro dia do Cerrado
(Morte de Isaías Cândido de Souza)
Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida.
Isaías Cândido de Souza, 42 anos (quando faleceu), filho de Trajano e Laura. Casado com Belonizia dos Santos Souza, conhecida por (Neliza). Lavrador, pai de 11 filhos, morava na comunidade de Mosquitão, município de Canápolis, onde trabalhava para sustentar seus filhos, com muitas dificuldades, pois as dificuldades eram grandes. Ele não tinha condições financeiras para manter os filhos.
Nós de família simples e humilde. Meu pai cuidava bem de nós, com todo carinho, amor, atenção e respeito e nós filhos respeitava atentamente.
Um homem alegre, trabalhador e honesto, onde lutava pelos seus direitos e deveres.
O ocorrido foi por uma luta de classes em defesa da água, pois a burguesia queria o poder da água e deixando as famílias carentes sem água, a partir disso um grupo de 22 homens, tendo junto dois filhos de Isaías, reivindicaram a ação dos grileiros, destruíram a cerca que foi feita para cercar o local onde iria construir uma barragem. Depois de ter derrubado a cerca os 22 homens foram intimados a prestarem depoimentos na delegacia. E na delegacia houve discussões no atendimento. Neste momento meu pai Isaias foi morto com 03 tiros na porta da delegacia no dia 11 de setembro de 1985, as 9 horas e 30 minutos.
Todo esse acontecimento traz um sentimento angustiante de revolta, indignação e muita tristeza. São lembranças que ficam guardadas para sempre em nossos pensamentos. A revolta de saber que, quem está no poder não pensam nas famílias carentes, acham porque estão no poder podem destruir vidas. Assim como fizeram, destruíram uma família, a alegria, os sonhos e as esperanças. Todos nós filhos com a graça de Deus, ajuda de amigos, igrejas, pastorais e voluntários, superamos a dor e as dificuldades que não foram poucas, mas em momento sequer superamos a perda do nosso saudoso pai Isaias, homem lutador e trabalhador.
Mas ele permanece vivo em nossos corações. Exemplo de dedicação, bravura e amor. Soube semear a coragem e determinação, por isso lutou até o último instante pela vida, partindo para junto de Deus, deixando em nós uma saudade, que nem mesmo o tempo apagará.
Obrigado Deus por tempo que ficamos com ele. A revolta é grande e aqui, depois de 31 anos, a gente pede que paramos e pensamos – ainda vivemos tantas injustiças.
Clamamos por Paz, Igualdade, Amor e enfim Justiça!
Valdete, filha de Isaías.