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CPT BAHIA

Mutirão da Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo em Irecê

Voluntária da CPT, conversando sobre a campanha de Prevenção e Combate ao trabalho Escravo no Bairro Quixabeira de São Gabriel. Foto: Cruz, Mauro Jakes Farias.
Voluntária da CPT, conversando sobre a campanha de Prevenção e Combate ao trabalho Escravo no Bairro Quixabeira de São Gabriel. Foto: Mauro Jakes Farias Cruz.

As manifestações do último dia 28 de abril marcou a abertura do Mutirão da Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo na Diocese de Irecê/Bahia, e aconteceu até o dia 30/04. Agentes e voluntários das Pastorais Sociais, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Cáritas, Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, realizaram panfletagem do material da campanha durante a manifestação, em dois bairros e duas comunidades rurais de São Gabriel.

Além da panfletagem, os 22 agentes e voluntários realizaram visitas e reuniões em 20 comunidades rurais dos municípios: América Dourada, Canarana, Lapão e São Gabriel. Este mutirão teve como objetivo divulgar a campanha de prevenção e combate ao trabalho no Brasil, conscientizar os/as trabalhadores/as de seus direitos trabalhistas garantidos em Lei e dialogar sobre as reformas do atual governo.

As visitas possibilitaram a conversa com muitos jovens e pais de famílias destes bairros e comunidades rurais que migram desta região para a colheita do café, laranja, batatinha, dentre outros serviços em Minas Gerais; corte da cana no Pará, Mato Grosso e Goiás; diaristas nas fazendas de Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras, bem como, nas irrigações da região de Irecê.

O relato dos jovens e pais de famílias possibilitou o conhecimento de uma realidade assustadora, como: jornada exaustiva de trabalho, precariedade nos alojamentos, alimentação insuficiente e em alguns casos, de má qualidade, sem equipamentos de proteção e ferramentas para exercer o trabalho.

Reunião Comunidade Lagoa do Zeca/ Canarana. Foto: Evanei da Silva Martins.
Reunião Comunidade Lagoa do Zeca/ Canarana. Foto: Evanei da Silva Martins.

Nas quinze reuniões realizadas, os depoimentos foram ampliados e houve discussões e reflexões com a participação de moradores/as das comunidades, sobre o ciclo da escravidão, direitos trabalhistas, relacionando com a atual conjuntura, como também, experiências de convivência com o semiárido que tem evitado a migração de alguns trabalhadores/as destas comunidades. Entretanto, os programas de convivência com o semiárido ainda são insuficientes, e a inexistência de políticas públicas, agrícolas e agrárias, tem contribuído com o processo de migração dos jovens e pais de famílias destas comunidades. Por meio das visitas e reuniões, estimou-se que mais de 2.000 pessoas de diferentes idades estão migrando neste período.

Esta realidade demonstra diferentes situações do trabalho degradante, caracterizado ao trabalho escravo, de exploração da mão de obra barata, negação dos direitos trabalhistas, que fere a dignidade da pessoa humana.

A seguir, apresentamos alguns relatos, entretanto, utilizamos nomes fictícios para manter a integridade dos mesmos:

“Somos obrigados a sair daqui, não temos trabalho, vamos fazer o que? Temos que sair. E lá trabalhamos de 5 da manhã a 6 da tarde, muito cansativo”. (João, informação verbal, 29/04/2017, grifo nosso)

“A gente chega emagrece, pois na alimentação é só uma colherzinha de feijão, eles dão mais é arroz pra gente comer, temos que comprar lanche, senão a gente passa fome”. (Tales. Informação verbal, 18/11/2016, grifo nosso)

“Uma das fazendas que fomos trabalhar, o dono deu o curral para a gente dormir, dissemos que não íamos dormir lá, e ele disse – se não quiser podem ir embora, como não tinha outro jeito, fomos limpar o curral para dormir”. (Bismarque. Informação verbal, 18/11/2016, grifo nosso)

 

Equipe Centro Oeste/ CPT Bahia

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