(Por Elvis Marques – CPT | Imagens: CPT Pará)
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) recebeu e acompanhou, hoje, através de veículos de comunicação e de depoimentos de seus agentes na região de Redenção (PA), inúmeros relatos sobre o tratamento dado aos corpos das pessoas assassinadas por agentes públicos do estado, durante o Massacre em Pau D’Arco, região Sudeste do Pará. O Estado que mata é o mesmo que desumaniza, e que vilipendia a moral e a dignidade dos pobres do campo.
Além de tirar a vida de dez sem-terra – sendo 9 homens e uma mulher -, o Estado tenta, incessantemente, justificar o injustificável. Assistimos matarem, amontoarem corpos, transportá-los inadequadamente de um lado para o outro, coloca-los no chão de qualquer jeito… E familiares das vítimas assistiram lhes tirarem a dignidade até no momento de chorar pelos seus mortos.
Na tarde da última quarta-feira, 24 de maio, todos e todas nós fomos pegos de surpresa com as fortes imagens de vários corpos. Eram as vítimas de mais um massacre no contexto de luta pela terra no Brasil.
Na região onde ocorreu o massacre não há unidade do Instituto Médico Legal (IML), por conta disso os corpos foram levados para autopsia em Marabá e Parauapebas.
Hoje, 26, por volta de 01h00 da madrugada, quase 48 horas após o Massacre de Pau D’arco, os corpos dos trabalhadores mortos pela polícia do Pará chegaram à cidade de Redenção. Envoltos com lonas pretas e em estado avançado de decomposição, os corpos estavam novamente amontoados nas carrocerias de duas caminhonetes.
Após percorrerem centenas de quilômetros, os corpos foram retirados dos veículos e colocados no chão da funerária de Redenção. E foi neste ambiente – improvisado e de total desrespeito às vítimas – que os familiares realizaram o processo de reconhecimento dos corpos.
“Houve descaso porque saíram daqui dizendo que os corpos iam chegar preparados. E não preparou nada. O sofrimento é muito grande”, relatou, emocionado, Marcelo Silva, que esperava receber seus entes queridos embalsamados, como fora prometido a ele e demais parentes.
“Familiares, jornalistas e agentes da CPT [Comissão Pastoral da Terra] que estavam no local testemunharam que as condições de entrega dos corpos foram indignas, o que causou a revolta de muitos dos presentes”, relatou um membro da Pastoral que acompanhou os enterros, e que completa: “a falta de organização e estrutura das instituições públicas adicionaram um grau maior de violência ao massacre”.
Às 6 horas da manhã, os caixões, todos fechados, foram levados para uma escola municipal, onde aconteceu uma celebração de corpo presente. Já por volta das 08h30, os caixões com as sete pessoas da mesma família saíram com destino ao Cemitério de Redenção. Outras duas vítimas foram veladas e enterradas em Pau D’arco. E a décima pessoa foi velada por seus familiares num local separado em Redenção.
“Na chegada ao Cemitério de Redenção, familiares, já cansados após esses dois dias sem dormir, e centenas de outras pessoas acompanharam os sepultamentos. Momento de muita dor e indignação”, ressalta um agente da CPT.
No momento dos enterros, por falta de funcionários no cemitério, parentes dos trabalhadores empunharam enxadas e pás para tapar as covas de seus mortos.
Abaixo, os nomes das 10 vidas ceifadas na luta pela terra no Brasil:
Oseir Rodrigues da Silva
Nelson Souza Milhomem
Wedson Pereira da Silva
Wclebson Pereira Milhomem
Jane Julia de Oliveira
Bruno Henrique Pereira Gomes
Hércules Santos de Oliveira
Regivaldo Pereira da Silva
Ronaldo Pereira de Souza
Antônio Pereira Milhomem