Pesquisadores, professores, estudantes, entidades e movimentos sociais se reuniram nesta quinta-feira, 27, no Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, para o lançamento do Conflitos no Campo Brasil 2016. O relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) reúne dados sobre os conflitos por terra, água e trabalhista, e violências sofridas pelos trabalhadores/as do campo brasileiro, incluindo indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.
O evento contou com a participação de Joaci Cunha, assessor do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), que abriu o debate com a análise de conjuntura; Mirna Oliveira, advogada da Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais (AATR), que lançou a Revista “No Rastro da Grilagem”; Edvagno Rios, integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); e trabalhadores/as vítimas de conflitos na Bahia.
Ruben Siqueira, um dos coordenadores da CPT Nacional, apresentou os dados do relatório Conflitos no Campo Brasil 2016 e destacou o aumento da violência no campo em 2017, que já ultrapassa os números do ano passado no mesmo período (51 assassinatos registrados até julho). Para o coordenador, esse crescimento está relacionado com as ações do atual governo federal.
Os dados dos conflitos na Bahia, estado que se tornou o terceiro mais conflitivo do país, se igualando ao Pará, foram apresentados por Roseilda Conceição, do setor de documentação da CPT. Conceição destacou os quatro trabalhadores assassinados em 2016, e denunciou a morte recente do líder comunitário José Raimundo Mota Junior, da comunidade de Jiboia, em Antônio Gonçalves (BA).
Durante o lançamento, Deraldino dos Santos, líder da comunidade de Porteira de Santa Cruz, em Serra Dourada (BA), relatou a violência que a comunidade de fecho de pasto vem sofrendo. Segundo o líder comunitário, eles estão perdendo territórios adquiridos por seus antepassados. Ainda de acordo com Santos, 11 trabalhadores foram presos, condenados e estão respondendo processo judicial.
“De 2015 pra cá, nós fomos surpreendidos com um juiz de Minas Gerais, desembargador, colocado por quatro fazendeiros, e eles vieram com violência. Na área de fecho de pasto, a gente cria gado, planta mandioca, feijão de corda, e eles passaram o trator de esteira por cima das nossas lavouras. Fomos muito prejudicados. Depois que perdemos mais da metade de nossa área, a comunidade ergueu a cabeça e foi à luta”, desabafou.
O lançamento da 32ª edição da publicação anual foi organizado pela CPT Bahia em parceria com o grupo de pesquisa Geografar, do curso de pós-graduação em Geografia e Economia da UFBA.
Dados gerais
Em 2016, a CPT registrou o maior número de conflitos por terra no Brasil nos últimos 32 anos (o número total de conflitos por terra é a soma de três variáveis: Ocupações – Acampamentos -Ocorrências de Conflito). Foram 1.079 ocorrências de conflito – onde houve alguma forma de violência-, uma média de quase três conflitos de terra por dia.
Na Bahia, foram 102 conflitos, um aumento de 75% em relação a 2015. 61 pessoas foram assassinadas no país ano passado, 22% a mais do que em 2015 e o maior número desde 2003. Quatro delas em território baiano, já citados.
Assessoria de Comunicação da CPT Bahia