Mais de 40 pessoas participaram da 1ª etapa da 6ª turma do Curso de Formação de Lideranças Populares – Liderar, entre os dias 02 e 04 de março, em Jacobina (BA). Os temas abordados na formação foram a Espiritualidade e Mística a Luz da Teologia da Libertação e o protagonismo juvenil, direitos humanos e organização popular.
A maioria dos participantes são jovens de assentamentos e ocupações da Reforma Agrária ligadas ao Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas – CETA, Movimento dos Pequenos Agricultores, Comunidades impactadas por Parques Eólicos e Mineração, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Nova, Comunidade Quilombola de Piabas e Grota Quilombola, representantes da Fundação Padre Alfredo Haasler e José Assis – FEPAJA, Escola Família Agrícola de Quixabeira e Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte – COFASPI.
Desde o ano de 2002, a Comissão Pastoral da Terra – CPT do núcleo de Senhor do Bonfim em parceria com movimentos sociais, algumas entidades e comunidades da região realiza o Liderar, que inicialmente ocorreu em dez etapas, a cada dois meses, mas a partir de 2015, passou a ser realizado em seis etapas, durante um ano.
A formação teve início com a assessoria da Irmã Terezinha Foppa, Irmã Alzira Maria Pereira, Laurinda Julião e padre José Hemberguer, partindo de um olhar sobre a realidade percebida pelos participantes em seus territórios. Dentre as principais questões, destacaram a situação de vulnerabilidade da juventude em relação as drogas e diversos tipos de violências; discriminação, racismo e homofobia; intolerância religiosa e de gênero; violências contra a mulher; desigualdades sociais e violação dos direitos humanos; ações de mineradoras e empresas eólicas contra as comunidades; situação sociopolítica do país (golpe de 2016, corrupção, violência no campo); problemáticas socioambientais; entre outros.
A metodologia trabalhada pela assessoria privilegiou reflexões a partir de leituras bíblicas que enfatizaram a ligação entre espiritualidade e promoção humana, apontando para a necessidade da ação de ir além do aspecto assistencialista e gerar processos de transformação com o protagonismo dos oprimidos.
Para Mônica Ferreira, do Assentamento Nova Canaã de Pindobaçu, a espiritualidade pode ser entendida com a leitura do Livro do Profeta Isaias, onde diz que é preciso romper as correntes da opressão e não se fechar em si. Já Terezinha Foppa considerou ainda a dimensão integral da espiritualidade, trazendo como exemplo o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. “A espiritualidade deve nascer do coração e impulsionar as lutas”, enfatizou.
O morador da Comunidade de Itapicuru, André Santos da Silva, também refletiu a temática discutida com os problemas sofridos no seu território. “A Comunidade está sendo massacrada pela mineradora Yamana Gold, mas estamos resistindo no nosso território. A espiritualidade tem a ver com a busca de melhorias para a vida, com as mobilizações sociais”, disse.
Segundo o padre José Hemberguer todos os projetos dos grandes, gera a morte para os pequenos. “A questão da terra é central na promoção da dignidade humana e todo cristão é chamado a mudar as realidades de injustiça”, afirmou. Para ele, além da etapa presencial, o Liderar prevê atividades no Tempo Comunidade, onde cada liderando(a) individualmente ou em grupo, precisará desenvolver processos de intervenção comunitária durante todo o período do curso. Para esta tarefa, Laurinda Julião, abordou aspectos relacionados ao protagonismo juvenil e direitos humanos, bem como, orientações práticas para a elaboração dos projetos.
As próximas etapas do LIDERAR estão previstas para acontecer nos dias 13 a 15 de abril com a temática de “Identidade camponesa e cultura popular”; 8 a 10 de junho, com “Trabalho de base e associativismo; metodologia do tempo comunidade II”; 3 a 5 de agosto, com “Terra, território e questão agrária contemporânea”; 19 a 21 de outubro, com “Relações sociais de gênero e poder”; e a última nos dias 30 de novembro a 2 de dezembro, com “Bem viver, descolonização e agroecologia”.
Texto e fotos: CPT Centro Norte/ Diocese de Bonfim (BA).