Uma das maiores ameaças ao campesinato brasileiro hoje está nos mitos modernizantes que configura o campo como espaço de atraso e empecilho para o desenvolvimento, e esse foi um dos conteúdos discutidos durante a segunda etapa do Curso de Formação de Lideranças Populares – Liderar, que aconteceu entre os dias 13 e 15 deste mês, na cidade de Jacobina (BA).
A reflexão foi conduzida por Claudio Dourado, agente da Comissão Pastoral da Terra – CPT Bahia/ Centro Norte, que apresentou os elementos da identidade camponesa com sua multiculturalidade pluriétnica e junto com os/as liderandos/as, analisou as semelhanças e diferenças de cada movimento social presente a partir de suas relações de territorialidade.
Os/as participantes abordaram as ameaças aos seus modos de vida, os desafios para o enfrentamento, primeiramente em função das crises econômicas, sociais e ambientais, mas também pela falta de uma autocritica das suas respectivas instituições. A partir daí, analisaram a necessidade da unidade nas lutas, já que os inimigos, mesmo com abordagens diferenciadas, são comuns entre as comunidades tradicionais e camponesas.
No segundo dia do encontro, Benedito Oliveira, arte-educador, contribuiu com um aprofundamento sobre a cultura popular, e destacou que assim como a mística fortalece a alma, é importante fortalecer também o corpo. Com uma metodologia dinâmica e participativa, foram trabalhadas técnicas de comunicação e expressão, exercícios de respiração, coordenação motora, interação grupal, técnicas vocais, além de batuques e cantigas populares.
Benedito Oliveira reforçou o princípio de que o/a militante social deve ser sempre o primeiro a dar exemplo, tendo um comportamento ético em todos os sentidos. “O nosso agir, precisa tocar as pessoas, a nossa fala, a nossa postura, devem motivar o povo ao movimento, com instrumentos e linguagens que animem e comuniquem a nossa mensagem de forma clara. Neste sentido, a arte com sua leveza, tem o poder de tocar profundamente as pessoas, possibilitando por diversos caminhos, a compreensão da realidade”, enfatizou.
A dança, determinados códigos da música estão na essência da cultura do povo e por isso tem a capacidade de arrastar multidões. Muitos desses elementos são apropriados pela indústria cultural e propagados como cultura popular, mas não são do povo e não estão a serviço do povo.
Participantes do curso, a exemplo do professor Carlos Almeida dos Santos, mestre de capoeira, e Janecleide de Jesus Silva, do Assentamento Santa Luzia em Ourolândia (BA), compartilharam alguns aspectos simbólicos como os códigos da capoeira, a história, instrumento, letras, gestos, elementos identitários; e destacaram o potencial da capoeira para as resistências e para a organização popular. Além deles, o Arlindo Manoel da Silva, da ocupação Tabuinha em Jacobina, levou a chula e o batuque, possibilitando a audição do som do cavaquinho e das letras de chula. O mesmo apontou para a importância de criar mecanismos que possibilitem a continuidade da cultura a partir das novas gerações.
Outro aspecto significativo do curso, e que apareceu na avaliação dos/das participantes, foi a expectativa de ter alguém para ensinar a fazer as atividades, mas como não teve assessoria, os/as liderandos/as usaram a criatividade para produzirem maquetes com material reciclável, peças de teatro e poesias retratando os modos de viver nos seus territórios.
Texto: Maria Aparecida Silva/ CPT Centro Norte – Núcleo Bonfim
Fotos: CPT Bahia/ Centro Norte