Dezoito mulheres da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Bahia, agentes e voluntárias, se reuniram para dar continuidade na construção da identidade do eu e do ser mulher na instituição, além de refletir sobre o papel da mulher nos diferentes espaços da sociedade, como na família e na Igreja. O II Encontro de Mulheres aconteceu entre os dias 22 e 23 deste mês, na cidade de Salvador (BA).
Nesse encontro as participantes aprofundaram o conhecimento sobre o patriarcado, analisaram como ele está associado ao capitalismo, e como isso e a mídia fortalecem esse lugar da mulher padronizada, principalmente em novelas e propagandas, que em sua maioria, tem um apelo sexual quanto ao corpo feminino ou um apelo doméstico.
Para Beth Siqueira, engenheira agrônoma e facilitadora do evento, esse foi um momento rico de olhar e refletir o cotidiano das ações e da presença viva das mulheres nessa luta, que é desigual, onde o homem decide tudo. “É o momento de exercitar e trocar de lugar, em um evento como esse, onde homens da CPT foram pra cozinha, isso é simbólico? É simbólico. Mas é necessário eles perceberem a importância desse espaço doméstico, antes, único e exclusivo de mulheres. Hoje a gente chama os homens para serem corresponsáveis”, disse.
O lugar da mulher dentro da Igreja também foi questionado, principalmente por ter um Papa que hoje é visto como inovador e aberto, mas que a ela ainda é dado um papel secundário. “A estrutura de igreja é patriarcal, estamos falando dessa Igreja que diz que é renovação, dessa Igreja que nos faz um chamado e que muitas mulheres dão a vida, deixam sua vida pessoal pra estar dentro das comunidades, das reuniões, pra se fortalecer, pra tentar ser uma semente viva na vida das outras mulheres”, reforçou Siqueira.
Durante os depoimentos compartilhados, muito foi dito dos desafios de trabalhar a questão de gênero nos ambientes da CPT, já que as mulheres são minoria, mas também da necessidade de fortalecer o individual primeiro para poder contribuir melhor no coletivo. Segundo Maria Santana, agente da equipe Sul/Sudoeste, as mulheres só querem ocupar seu lugar de direito. “O patriarcado está presente em nossas relações e se expressa nas diferentes formas de violências e machismo, e com informações podermos buscar estratégias para o enfrentamento e combater a isso”, afirmou.
Para Sandra Leny, agente da equipe Centro Oeste, participar desses espaços a ajuda a trabalhar com as mulheres das comunidades onde atua e contribuir direta ou indiretamente com pessoas que sofrem com este problema. “O machismo esta ai, não escolhe classe, não escolhe cor e ele está aqui para reafirmar o patriarcado e diminuir as mulheres, e com conhecimento a gente aprende a se defender e não aceitar mais os abusos”, refletiu.
Ao final do evento ficou o compromisso de dar continuidade aos estudos e de levar para as equipes internas e comunidades as discussões sobre gênero e o patriarcado, com o cuidado da realidade de cada lugar e das pessoas, e trabalhar a solidariedade entre as mulheres. “A gente teve lágrimas e sorrisos, mas refletimos e tentamos construir ainda mais, dessa vez de mãos dadas e braços bem juntos, pra que o entrelaçar das nossas relações enquanto mulheres não sejam neste o olhar que o capitalismo reforça, competitivo, de rivalidade, de crítica. Tentamos construir entre nós parcerias e uma sociedade mais feminina, com o olhar de mais cuidado umas com as outras e mais respeito”, concluiu Siqueira.
Texto: Comunicação CPT Bahia.