No leito seco do rio Gavião, em Piripá (BA), que abastece onze municípios que compõem a bacia do rio de Contas, cerca de mil pessoas vindas do Vicariato Nossa Senhora dos Mártires, das cidades de Condeúba, Cordeiros, Piripá, Tremedal, Maetinga e Presidente Jânio Quadros, realizaram no último domingo, dia 02, a VII Romaria das Comunidades.
O tema deste ano ‘Se calarem a voz do povo, as fontes secarão’, foi um anseio das bases das comunidades, preocupados com os cuidados com a água, sagrada e presente de Deus, mas que foi coisificada e transformada em mercadoria. São diversas ameaças aos rios e aos modos de vida tradicional como os esgotos, os desmatamentos das matas ciliares e os agrotóxicos. Ao final da mística de abertura, com um gesto simbólico, os/as participantes deram um gole de água ao rio Gavião.
Durante a caminhada da via sacra, os/as romeiros/as diante dos sinais de morte das águas apresentaram também os sinais de vida, especialmente, com os exemplos de lutas em prol da permanência dos povos em seus territórios, do cuidado com a natureza e com a vida. No final da Romaria foi apresentada a Carta feita pela coordenação que segue abaixo na íntegra:
CARTA DA VII ROMARIA DAS COMUNIDADES
Somos cerca de 1000 romeiros/as vindos do Vicariato Nossa Senhora dos Mártires, que compreende os municípios de Condeúba, Cordeiros, Piripá, Tremedal, Maetinga e Presidente Jânio Quadros, viemos a Piripá celebrar a VII Romaria das Comunidades, com o tema “Se calarem a voz do povo, as fontes secarão”.
Às margens do rio Gavião refletimos sobre a importância decisiva da água: biológica, social, econômica, ecológica, religiosa etc. A água é um presente de Deus, fonte e condição da vida de todos os seres deste Planeta. Quando a água é apropriada por um pequeno grupo de empresas em detrimento da vida de milhões, essa água passa ter importância política. Esse pequeno grupo, interessado na água apenas como negócio, mercadoria e lucro, representa um projeto de morte. São os bancos e os especuladores, é o agronegócio que privatiza a terra e a água, são as mineradoras que exaurem os bens naturais, são os meios de comunicação empresarial que manipulam as informações. São juízes corruptos que prendem inocentes, assim como fizeram com Jesus. Esses são os senhores do projeto da morte.
Do outro lado temos um projeto de vida, em construção diariamente pelos filhos/as de Deus nas comunidades e em todas as lutas por comunhão, justiça e dignidade. Nesse projeto, a água, assim como todos os bens comuns não são mercadorias. Nesse projeto os trabalhadores/as vivem em paz sem serem explorados por ninguém; nesse projeto todos/as têm o direito a opinião e a livre expressão de sua vontade política.
Que a VII ROMARIA DAS COMUNIDADES seja um reencontro do povo com o projeto de vida de Deus. “Deus é água e o nosso povo necessita da água, assim como necessita de Deus”. Que esta Romaria seja uma reafirmação do compromisso de luta contra o projeto da morte, que sobre o leito seco do rio Gavião, nós nos enxerguemos como filhos/as de Deus dispostos a defender todas as fontes de água e formas de vida.
‘Se calarem a voz do povo, as fontes secarão’. ‘Se o povo lutar, as fontes jorrarão’.
Piripá, 02 de setembro de 2018.
