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CPT BAHIA

“Dicionário Crítico da Mineração” é lançado em Seminário na Univasf

Aconteceu na noite do dia 05 deste mês, na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), no campus de Senhor do Bonfim (BA), o I Seminário Reflexões Socioambientais das Atividades Mineradoras na Bacia do Itapicuru e Brasil, com o tema “Desafios e perspectivas – Construir Soberania Popular Na Mineração, um debate urgente e necessário” e o lançamento do “Dicionário Crítico da Mineração”.  O evento teve como objetivo o debate sobre as problemáticas socioambientais causadas pela atividade mineradora no Brasil e na Bacia do rio Itapicuru, que fica localizada no Nordeste da Bahia.

No primeiro momento foi realizado o lançamento do “Dicionário Crítico da Mineração”, que foi apresentado por Pablo Montalvão, representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), e que também participou da mesa redonda. O produto é resultado de um trabalho coletivo de professores/as e pesquisadores/as de diversas universidades do país, articulado e coordenado pelo MAM, que pesquisam e produzem de maneira sistemática sobre a indústria extrativa do Brasil em várias áreas de conhecimento, dispostos a demonstrar experiências, estudos e reflexões sobre a mineração em suas interfaces com análises já produzidas acerca das relações sócias, de trabalho, de saúde, ambientais e de direitos humanos.

“O objetivo foi o de construir e socializar uma síntese de compreensão teórica da mineração com base na concepção produzida e defendida pelos movimentos populares, se transformando, portanto, em um instrumento de estudo e de luta social. Esse trabalho vem com a proposta de que possamos nos debruçar sobre a obra, compreendendo como funciona a indústria extrativa da mineração, mas que seja utilizado como um material para anteciparmos as articulações das empresas mineradoras”, afirmou.

O segundo momento do Seminário, Gustavo Negreiros, professor do Colegiado de Geografia (UNIVASF) expôs os impactos causados em toda Bacia do Itapicuru pelas atividades mineradoras. “O Rio Itapicuru é de muita importância para essa região, uma vez que o mesmo vem garantido à sobrevivência de famílias ribeirinhas, agricultores familiares, camponeses e as populações urbanas. E a mineração tem causado, e ainda causa, danos estrondosos”, disse.

Para Maria Aparecida, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apresentou a conjuntura de como tem se dado os conflitos frente aos impactos das mineradoras na Bacia do Itapicuru. “O sobsolo pertence à união, e a quem pertence a união, se não ao povo? É entendendo que os superficiarios não são apenas usuários da superfície do solo, mas são donos e devem usufruir de tudo o que nele está, é um bem comum que deve estar à disposição daqueles que querem usá-los. Na nossa região, a concentração de terras tem aumentado muito, mas agora não mais só pelos fazendeiros, mas pelo avanço do capitalismo-extrativista, com as grandes empresas do Agroidronegocio, que tem se tornado um grande transtorno em nossa região. Soma a isso as empresas mineradoras, parques eólicos e solares”, enfatizou.

Aparecida ainda relatou que há quase três anos, a CPT faz o acompanhamento de um território quilombola com 12 comunidades no município de Nordestina onde está instalada a LIPARI MINERAÇÃO LTDA, que extrai diamantes. A empresa está na dentro do território quilombola e com sua chegada começou a criar limites para a população, criando cercas, aumentando o risco de acidentes no percurso de acesso a mina com o tráfego de automóveis pesados. E ainda assim a empresa insiste que não tem nenhuma responsabilidade com à população impactada e nem com os problemas ali presentes.

Em sua participação na mesa redonda, Pablo relatou que é complexa a construção da organização popular no município de Nordestina devido a seu processo histórico de negação do conhecimento, que hoje reflete em um nível alto de analfabetismo. Segundo ele, a LIPARI utiliza na planta de beneficiamento 669 m3 de água/h o que daria para abastecer 85 residências durante um mês na cidade, sendo que há famílias recebendo água de caminhão pipa, e as crianças ainda vão escola sem tomar banho por falta de água.

“São situações como essas que nos causam indignação e nos incentiva a sair do conforto de nossas famílias, para lutar mais e mais com o povo. A luta pela soberania popular na mineração, não é recente, mais sim de mais de 400 anos de saque dos recursos naturais. Ainda hoje, o Brasil não se reconhece como um pais minerador e é por esse motivo, e tantos outros, que lutamos para que possamos reconhecer o quanto foi negado ao povo ao longo da história, o acesso ao conhecimento, a educação e à participação na construção de um projeto de nação”, concluiu.

Para o MAM, a luta da mineração não se fecha somente no complexo de exploração da mina, mas se estende por algo muito maior, passando-se pelas barragens de rejeito, às ferrovias e portos que estão sempre ligados uma lógica de exploração estratégica em função do fortalecimento do capitalismo internacional via Indústria Extrativa da Mineração em um sistema Neoliberal.

Texto: Pablo Montalvão/ Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

Edição: Comunicação CPT BA

Fotos: Lucas Zenhas/ GeografAR – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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