Por: Miriam Hermes/ Jornal A Tarde
Com cerca de 20 km do leito do rio Utinga seco desde o início de fevereiro, moradores ribeirinhos dos municípios de Wagner e Lençóis procuraram o jornal A TARDE para denunciar situação atípica do rio.
“Pela primeira vez, entramos o mês de fevereiro com o leito do rio seco em quase 20 km. Já comunicamos ao Inema, mas ainda não tivemos retorno”, disse o coordenador do território Chapada, Wilson Pianissola.
Ele explicou que, em dezembro do ano passado, a região teve uma semana de chuvas “e o rio encheu bem e transbordou em alguns lugares mais baixos. Mas, menos de um mês e meio depois, já estamos sem água”, lamentou, dizendo que não há previsão de chuvas para as próximas semanas.
Conforme Pianissola, o trecho seco fica nos últimos 20km do rio Santo Antônio. “Em 2015, foi a primeira vez que o leito secou, pois antes era perene”, afirmou, apontando a retirada de água por empreendimentos agrícolas irrigados que seriam responsáveis pelo colapso. “As prioridades estão invertidas, pois, pela lei, um manancial deve em primeiro lugar servir para o consumo humano e depois para dessedentação animal”, disse.
Para ele, no rio Utinga a ordem está trocada, “pois a produção em grandes áreas agrícolas, que deveria ser depois deles, está captando toda a água que seria para a população e o rebanho”, afirma.
Ao longo do rio existem mais de 10 comunidades tradicionais e assentamentos de reforma agrária. Segundo os ribeirinhos, só não estão passando sede porque têm poços artesianos em alguns povoados e, com carros-pipa, estão distribuindo a água entre si.
Conforme o gestor ambiental Humberto Cedro, a crise hídrica está se agravando. “Serão necessárias ações contundentes que vão desde controle da vazão e retirada de água, até conscientização contra desperdício e preservação ambiental”.
“Os ribeirinhos não têm mais segurança para plantar ou criar animais. Muitos açudes estão secos, os peixes morreram e as roças não dão nada. Muito triste acompanhar esta situação”, desabafou Cedro.
Ele salientou que “o Utinga é afluente do Santo Antônio, que por sua vez tem a foz no rio Paraguaçu. Se não cuidarem da Chapada, muitas cidades ainda podem sofrer inclusive Salvador, que tem parte da população abastecida com águas do Paraguaçu”, alertou.
De acordo com o gestor ambiental, no ano passado o rio Paraguaçu ficou com um trecho de cerca de 10 km com o leito seco. “Não é só o rio Utinga que está sofrendo, muitos outros tem situação semelhante. É hora de cobrar ações em regime de urgência”, enfatizou.
Conforme o diretor de águas do Instituto de Meio Ambiente e recursos Hídricos (Inema), Eduardo Topázio, existem ações em andamento por parte do órgão, com a meta de solucionar a crise hídrica na região.
“Temos diversas atividades programadas e em execução por vários setores do Inema, como fiscalização e regulação. O problema maior é a baixa pluviosidade da região num período que se espera chuva”, disse.