Por: Rui Daher (Opinião – Fonte: Carta Capital)
Nesta coluna uso tom agressivo, mais comum em outras publicações onde escrevo. Vez ou outra, deixo-o escapar neste site de CartaCapital, em progressão rumo a reportagens factuais e menos a opiniões de analistas que vão à lupa.
Explico: para mostrar essa dicotomia pouco adianta usar a lupa à direita ou esquerda. São equívocos iguais a me enfurecer.
Acabo de voltar dos interiores de São Paulo e Minas Gerais. No sagrado, embora sem missa, domingo, procurei atualizar-me no que, na semana, se escreveu nas folhas e telas cotidianas sobre agropecuária e agronegócios. Separei-os por ter cansado de escrever que apenas diferem em agregação de valor, mas um existe por si próprio e o outro sem o primeiro nem entra em campo. Vale dizer, como extração de minério e fábricas de parafusos.
O que vi? O mesmo Brasil que vocês veem. De pobreza, confuso, sem perspectiva, de “fracasso em fracasso”, como no samba-canção. Tanto faz quem sabia aonde iríamos chegar e os esperançados no impeachment de Dilma Rousseff.
Fomos vítimas, todos, da mesma engrenagem que nos amputou pernas, direitas ou esquerdas. E os fracassos trouxeram as desilusões que nos fazem conduzidos porindecisões e interrogações.
Quem virá? Mas um só? Ou ninguém? É quando desilusão vira desespero. Pela frente, política atrelada à moda Temer, economia ao frívolo Meirelles na contramão do planeta, a camarilha corrupta que permanecerá em Brasília e em outros rincões da Federação de Corporações, eleita por votos de cabresto, pois quem somos nós para sabermos o que ocorre neste extenso território?
Do mesmo lado da reação ao desenvolvimento com perfil social, um juiz de piso, camisa preta, lábios finos, que em suas perseguições não respeita nem mesmo seus tribunais superiores.
Folhas e telas cotidianas, decrépitas, grandes e quebradas em ignorâncias negociais, a que restam acordos espúrios para assassinatos de reputação.
Pergunto em vários rincões como viviam quando presidente o preso de Curitiba. Poucos reconhecem a vida melhor. Grande parte se esquiva. “sabe, o tríplex, o sítio em Atibaia, ospedalinhos, tudo no nome da falecida ex-primeira-dama, Dona Marisa Letícia; o prédio da ESALQ e do filho, Lulinha. Era melhor a vida, mas não precisavam roubar”.
E assim sigo os caminhos, faço visitas a lavouras e palestro. Diabético, recuso-me melindrar quem à minha frente e aceito o café melado de Minas Gerais. Finjo tomar tudo. Antes de deitar, aumento dois graus no índice de insulina. Se tomei alguma cachaça, aumento quatro.
O tempo todo, conto-lhes como estão sendo explorados pelos fabricantes multinacionais, cada vez mais concentrados, desde o momento do plantio, durante os tratamentos nutricionais e fisiológicos necessários, suas mortes primeiras vêm com os insumos agrícolas. Mais tarde, feita a colheita, na venda de seus produtos, commodities ou não.
Ouvem-me. Parece. Percebo que aumentam aqueles que concordam. Mas, infelizmente, a maioria teme a mudança. Nisto, ajudam imposições de cooperativas, agrônomos convencionalistas e técnicos agrícolas que não se atualizam.
Muitos de nós, no lugar deles, talvez, fizéssemos o mesmo. Dependendo se a cultura é temporária ou permanente, o tempo é muito curto para ver sucesso ou fracasso. Não podem errar. Quem os ajudará? Bancos, governo, o inominável pré-candidato?
Com razão. Como estará o mercado ao final da colheita? Os preços de vendas? Os fretes (estúpido tabelador Temer)? Se alta a oferta, conquistada à base de produtividade, serão os mocinhos da inflação JN. Se o contrário, seus vilões.
A proteção está durante o ciclo das lavouras através de tecnologias nacionais mais baratas. Não temam usá-las.
Leitores e leitoras, a manutenção da taxa de inflação, divulgada por Temer e Meirelles, afiançada por seus asseclas economistas neoliberais e pela mídia reacionária. Sim, termo datado aos tempos em que eu ajudava a quebrar as vidraças do Citibank, na esquina das Avenidas Ipiranga e São João).
O truque da “estabilização” é mantido pela oferta de quem planta para um consumo estagnado ou em queda, pelos desemprego e baixos rendimentos, determinados pelo ilegítimo governo atual.
Optem pela mudança. Minha AK-47 está preparada para textos e ações. Não há outra saída. Pensem e ajudem ao Brasil. De quem precisávamos, não teremos a liberdade.