A Comissão Pastoral da Terra – CPT, organismo de apoio às lutas camponesas no Brasil e que há mais 40 anos presta um serviço de assessoria e apoio aos territórios quilombolas, áreas de reforma agrária e comunidades tradicionais na região Centro Oeste da Bahia, vem expressar apoio e solidariedade à luta pelo asfaltamento da BA 160 e contra o racismo estrutural.
As lutas quilombolas nesta região remontam a década de 1980 a partir do conflito sofrido pelo Quilombo Rio das Rãs que travou uma grande luta em defesa do seu território e se tornou o primeiro quilombo reconhecido e titulado no Brasil na década de 1990. A partir deste período a falta de manutenção fez com que a BA 160 se tornasse intransitável, sobretudo no trecho que liga Bom Jesus da Lapa a Malhada. O descaso do Estado com estas comunidades fazem parte de um projeto histórico de racismo estrutural de exclusão de grupos étnicos ao acesso às políticas públicas estruturantes. O Estado escravagista do passado é o mesmo que no presente é segregacionista e excludente.
O Território do Velho Chico é predominantemente quilombola, destaca-se dentre estes territórios, os quilombos de: Pau D’arco-Parateca, Tomé Nunes, Rio das Rãs, Nova Batalhinha, Araçá-Volta, Lagoa do Peixe, Bebedouro, Juá-Bandeira, Fortaleza, Jatobá, Mangal-Barro Vermelho, Peroba, dentre outros; com uma população estimada acima de duas mil famílias, que dependem diretamente da BA 160 para viver, e que sofrem há décadas com prejuízos econômicos, educacionais, na saúde, nas relações sociais e suas vivências culturais e religiosas tão significativas para o povo negro.
Acrescentam-se a esta realidade de racismo estrutural os diversos assentamentos de reforma agrária, as inúmeras comunidades tradicionais camponesas e as populações urbanas, sobretudo, dos municípios de Malhada, Bom Jesus da Lapa, Paratinga e Ibotirama que dependem diariamente desta rodovia para suas inúmeras atividades. Cabe ainda ressaltar que a BA 160 é uma das principais vias de acesso a Bom Jesus da Lapa, capital baiana da fé, portanto o seu estado de precariedade impacta o desenvolvimento social e econômico gerado pelo turismo religioso dos milhares de romeiros e romeiras que anualmente percorrem estas estradas até o Santuário do Bom Jesus, para cumprir suas promessas.
Na contramão do que move milhares de romeiros aos pés do Bom Jesus, o governador Rui Costa não cumpriu com suas promessas de asfaltar a BA 160. Diante de tamanho descaso e do desgaste com um diálogo infrutífero, não restou outra opção para o povo a não ser manifestar-se. O que é legitimo e fundamental no atual contexto vivido, com isso espera-se que o Governo do Estado da Bahia tome providências urgentes, justas e respeitosas no atendimento às reivindicações pelo asfaltamento da BA 160 no trecho entre os municípios de Ibotirama, Paratinga, Bom Jesus da Lapa e Malhada.
Nota: CPT BA do Centro-Oeste da Bahia
