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As 500 hidrelétricas que ameaçam o Rio Amazonas

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

Na bacia do Rio Amazonas já existem 140 barragens hidrelétricas em funcionamento e outras 428 estão em fase de planejamento. Um estudo publicado na revista Nature adverte que estas obras reteriam muitos substratos que são essenciais para os organismos que o habitam.

A reportagem é publicada por El Espectador, 18-06-2017. A tradução é de André Langer.

Embora a vastidão do Amazonas possa parecer infinita, os danos que cerca de 500 hidrelétricas adicionais poderiam causar são irreparáveis. De acordo com um estudo publicado pela Nature, do qual participaram ecologistas, engenheiros, economistas e geólogos de várias universidades dos Estados Unidos, neste momento estão em operação ou em construção 140 hidrelétricas, mas outras 428 barragens estão em fase de licença para operar ao longo da bacia.

Rio Amazonas é, sem dúvida, cobiçado pelo grande fluxo que move. Seu trecho principal tem dois mil quilômetros, e deságua no Atlântico, onde desemboca em um estuário que chega a 300 quilômetros. Além disso, um segundo trecho, que se estende até os Andes peruanos, chega a cinco mil quilômetros. Sua bacia tem 6,1 milhões de quilômetros quadrados, cinco vezes o tamanho da Colômbia e abriga 20% da água doce da Terra.

Mas esta grande dimensão não significa que o Amazonas possa suportar o impacto de 568 hidrelétricas, porque cada vez que suas águas passam por uma delas vão se perdendo sedimentos e nutrientes que dão vida ao rio ao longo de todo o seu percurso. Somente no seu último trecho o Amazonas transporta entre 800 milhões e 1,2 bilhão de substratos por ano. Segundo cálculos do estudo, cerca de 60% destes sedimentos poderiam ficar retidos se todas estas hidrelétricas fossem construídas.

O problema, além disso, é que estes sedimentos não apenas deixam de ser transportados nos rios, mas não serão depositados nas planícies amazônicas, onde são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema.

“A coluna de água e sedimentos que acaba no Atlântico se estende por mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados do oceano, a metade da área do Mediterrâneo. Além de ser a base de uma extensa linha de coral na costa americana e de manguezais nas Guianas e no norte do Brasil, esta enorme contribuição amazônica intervém no clima regional condicionando a geração e o movimento das tempestades tropicais do Caribe. A falta de sedimentos na zona costeira também favorecerá a erosão marinha e a intrusão de água salgada nos aquíferos”, explica Miguel Ángel Criado, jornalista do jornal espanhol El País.

Em um índice de vulnerabilidade de 1 a 100, criado pelo mesmo estudo, os pesquisadores concluíram que alguns rios da faixa andina, como o Marañón, têm um risco de 72, já que em seu trajeto há uma estimativa de 104 hidrelétricas de mais de um megawatt que estão operando ou poderiam entrar em funcionamento.

No Rio Madeira, por sua vez, o índice de vulnerabilidade supera os 80 pontos, mesmo que nele vivam cerca de mil espécies de peixes. Não obstante, de acordo com o jornal El País, o caso que mais chamou a atenção é o do Rio Tapajós, um grande afluente da margem direita do Amazonas. Embora não tenha nenhuma represa sobre o seu leito diretamente, este rio está perdendo uma quantidade muito alta de substratos em decorrência de seus afluentes contarem com várias hidrelétricas construídas.

Por isso, os pesquisadores chegaram à conclusão de que não há rio que suporte mais de 500 hidrelétricas.

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