Trabalhadoras rurais dos municípios de Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes participaram de duas oficinas com as temáticas sobre “Equidade de Gênero e Direitos” e “Sistematização da produção das mulheres na caderneta agroecológica e autonomia econômica”. As formações, organizadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro, aconteceram entre os dias 22 a 27 de junho, na comunidade de Olho D’Água, em Pilão Arcado; e na comunidade Baixão dos Bois, em Campo Alegre, onde reuniu representações femininas de 10 comunidades da região.
Ao todo, 65 mulheres acompanharam as atividades de formação que refletiram sobre os direitos e realidades da mulher camponesa. A questão de gênero foi discutida na primeira oficina, através de dinâmicas como a do relógio da rotina diária, na qual as mulheres descreveram todas as tarefas que realizam em 24 horas. Ilustradas em tarjetas em um grande relógio, foi possível identificar como as mulheres conciliam o cuidado de crianças e idosos, a limpeza e organização da casa e o preparo de alimentos com o trabalho nos quintais, o cuidado dos animais e das plantas, a lida na roça e a comercialização de alimentos nas feiras. Além disso, muitas mulheres incluem nessa exaustiva jornada o trabalho fora de casa, como professoras, auxiliares de serviços gerais e comerciantes.
Dessa maneira, as trabalhadoras visualizaram o que é chamado de “trabalho invisível” das mulheres, que não é remunerado, mas que requer a energia e o tempo das mulheres ao longo do dia. Assim, foi debatida a importância da divisão justa do trabalho doméstico, na qual toda a família deve ser responsável pelo cuidado e bem estar do lar. “A gente é tão acostumada no lar, que a gente não percebe o quanto uma mulher trabalha. A gente precisa ser valorizada, não é possível de 6h da manhã às 18h dar conta de tanta tarefa sozinha, com poucos momentos de diversão. A gente não tira um tempo para parar, se cuidar”, disse Cristina Rodrigues, da comunidade Sítio Novo do Pedrão em Campo Alegre de Lourdes e integrante da Rede Mulher.
Diante de uma realidade desigual para as trabalhadoras do campo, a autonomia financeira se torna um grande desafio, à medida que as mulheres enfrentam obstáculos para se dedicarem às atividades remuneradas. Contudo, verificando as tarefas diárias em casa e no quintal, foi possível perceber como as mulheres contribuem diretamente na renda da família, promovendo a segurança alimentar e nutricional.
Nesse sentido, a segunda oficina trabalhou com a Caderneta Agroecológica, um instrumento sistematizado pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA/ZM) e pelo Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas, para registrar as relações de produção, troca, venda e consumo de alimentos produzidos pelas mãos femininas. Por meio dessa ferramenta, as mulheres poderão acompanhar sistematicamente o que é gerado em seus quintais, calculando suas contribuições no rendimento doméstico. E fruto desta ação, espera-se favorecer o planejamento e construção de sua autonomia econômica e empoderamento.
As oficinas marcaram o início de uma série de atividades do Projeto “Autonomia econômica e social das mulheres camponesas do Semiárido, Bahia”, articuladas pela CPT Juazeiro com mulheres das comunidades tradicionais de fundo de pasto dos municípios de Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes. Esse projeto conta com o apoio da organização Manos Unidas.
Texto e fotos: CPT Juazeiro/BA