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CPT BAHIA

Camponesas gestantes em um período pandêmico

A MISSÃO DE SER MÃE

Um dos papéis mais preponderantes da mulher é gerar vida, sendo assim, o Salvador Jesus foi gerado no ventre de uma simples mulher. A bíblia trás em muitas passagens a exaltação, seja o de mãe ou discípulas que seguiam, lutavam e até mesmo que morreram por Jesus. Embora, todos os papéis sejam igualmente reconhecidos. Esse papel de mãe era tão importante nos tempos bíblicos que a esterilidade feminina chegava a ser considerada uma maldição divina, porquanto furtava a mulher de uma de suas funções mais importante na vida. Há casos destacados com especialidade como o de Sara (Gn 17:15), Raquel (Gn30), e Ana (I Sm 1:2) todas essas mulheres de Deus foram abençoadas no tempo de Dele para gerar a vida.   

Importante ressalta, que o papel de ser mãe, sempre foi importante e que no contexto atual, século XXI, não é diferente. Mesmo diante de um mundo com todas suas especificidades, Deus tem honrado e abençoado muitas mulheres com essa Graça elas mesmo sabendo que irão passar muitas noites acordadas, que renúncias terão que serem feitas, que é uma tarefa difícil, árdua, mesmo sabendo de tudo isso, estão dispostas a viver tudo por esse amor sem fronteiras.  Hoje sabemos que não uma maldição ser estéril ou optar em não gerar uma vida, pois, há diversas formas de partilhar, educar, amar e criar um outro ser. Ser mãe é muito além de uma gestão que venha do ventre, ela pode vim também do coração. Gerar uma vida é uma dádiva de Deus, momento este que proporciona a mulher o maior prazer, poder, carregar contigo durante nove meses e no decorrer desses meses poder dividir este amor incondicional com esposo e os entes queridos e amigos. Presente de Deus dado àquelas que Ele confia, que Ele sabe que amará e cuidará com muito amor daquele ser inocente e cheio de vida. Um novo ser que dependerá durante toda a sua existência de cuidado, proteção, carinho e claro, amor, por toda vida. Neste contexto falando de amor incondicional de ser mãe, trago presente essa citação de 1 Coríntios 13, 4-8.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
1 Coríntios 13:4-8

Falar de amor é ir além de qualquer fronteira, é permitir que portas e horizontes se abram, pois, quando se refere a dar a vida a uma criança, a mulher traz presente o ser maior todo poderoso, único que dar e tira. Neste contexto é importante trazer presente aquelas mães, que não puderam trazer a vida, mas dentro de si carrega um amor incondicional e que faz questão de dividir com aquele ser inocente que Deus muitas vezes coloca em seu caminho, as mães adotivas.

Engravidar no Contexto da Pandemia

Engravidar em 2020 era projeto e sonho de muitos casais, mas aqueles que sonharam em viver essa dádiva de Deus, não imaginaram que o ano teria tantos acontecimentos que mexeria com emocional e planos de ampliarem família. Paradoxalmente partilhar o tempo com todos aqueles que amam. Muitos casais ao se depararem com a pandemia e o novo normal resolveram desistir e deixar para outro momento, quando tudo se acalmar. Já outros, mesmo diante do atual contexto, resolveram permanecerem unidos um ao outro e dar continuidade ao sonho, com a benção de Deus. E tiveram aqueles que não esperavam terem filhos e eles vieram de surpresa e por fim, os pais tiveram que dar continuidade a esse sonho e amor que surgiu de repente.

Os casais que receberam a notícia meses antes do surgimento do covid19, fizeram vários projetos para durante e pós-gestação, mas muitos se depararam alguns meses depois com a triste notícia que mudaria todos os seus planos. Infelizmente, não poderiam mais fazer tudo aquilo que desejaram: chá de bebê com familiares e amigos, aquele momento de visita domiciliar, o pirão e a temperadinha, pois, a gestação já não poderia ser tão exposta como se desejava. Essa notícia  mudou tudo, pois mesmo vivendo no interior, na zona rural é preciso e necessário ter uma gestação totalmente diferente de tudo que sonhou, o novo corona vírus desconhecido surgido na China se espalhava rapidamente por todo mundo, ceifando vidas de jovens, idosos, crianças e quem se encontrava com problemas graves de saúde. Por tanto, isolar e manter os cuidados se faz necessário.

A vida no campo não é fácil, em especial para mulheres, que na grande maioria das vezes além dos afazeres domésticos e ainda tem a labuta na roça. Com trabalho na lavoura para completar a renda família e nos fins de semana levar os produtos para cidade para vender os excedentes. Neste contexto de acordo algumas jovens mães ficaram mais complicado, pois, muitas ao esperarem o primeiro filho fez vários planos, e ali se viam sem saída com esse caos generalizado causado pela pandemia da Covid-19. Abaixo alguns relatos de algumas mães:

Jane Kelly Pereira Santos, 19 anos jovem camponesa, comunidade Cachoeira Ribeirão do Largo

Então quando descobri que estava grávida ainda não tinha surgido no Brasil a Covid-19, mas assim que chegou em nosso município estava com 4 pra 5 meses de gestação. Fiquei com medo, lógico, não por mim, mas por conta que eu estava carregando uma vida, fiquei em casa na comunidade rural de Cachoeira Ribeirão do Largo – Ba o tempo todo. Só ia na cidade pra fazer os pré-Natal e exames de rotinas chorei várias vezes por que eu queria comprar o enxoval, saída de maternidade tudo mais que um bebê precisa queríamos reunir familiares e amigos para o chá dá Maria Cecília, mas por conta da pandemia não foi possível acontecer.

Então, tivemos uma ideia de fazer um chá de fraldas online que todos poderiam participar com os cuidados necessários a cada um, durante o pré-natal fiquei com algumas consultas afastadas por que a enfermeira achou melhor dar um tempo e só voltamos após alguns meses.

Quando fui ao hospital o médico e enfermeiro estavam muito bem equipados, com duas máscaras e luvas. Eu fui com a máscara também, mas logo após eu tirei por que estava incomodando e dificultando a respiração, mas sempre usava o álcool nas mãos, eles em geral foram bastante cuidadosos nessa questão.

Na sala de pós-parto não podia entrar visitas, só o pai da criança e minha sogra, mas foi coisa rápida. Assim que sair do hospital não recebemos visitas, só após 15 dias que alguns familiares mais próximos foram nós visitar. Sempre que Thiago chegava do trabalho ia direto para o banho pra depois ter contato comigo e neném.

Ser mãe é uma dádiva de Deus, mas infelizmente não vem com o manual, temos que ser bem cuidadosos com o nosso pacotinho. Com esse vírus desconhecido, os cuidados têm que ser em dobro, conforme o tempo vai passando a gente vai conhecendo as manias e o que eles querem nos dizer. Ser mãe é um amor inexplicável, intenso, que você faz qualquer coisa para ver o sorriso no rostinho deles. Quando estou amamentado ela e vejo aquele olhar meigo como se tivesse agradecendo pelo alimento que estou dando, isso me orgulha tanto, já chorei várias vezes olhando para ela e agradecendo a Deus pelo o anjo concedido e pela a capacidade de me tornar mãe. Maria Cecília é tão perfeita.

Sandra Aparecida Carvalho Silva, 27 anos, Pedagoga  

Ser mãe no contexto da pandemia é uma experiência transformadora, desafiadora e a mais linda que uma mulher pode vivenciar. É um misto de sentimentos e emoções que toma conta do nosso ser e nos faz renascer como MULHER forte, responsável e dona do maior amor do mundo.

Na verdade, ao descobrir a gestação, eu não imaginava que a vida nos pregaria essa peça, um vírus invisível que veio para transformar a vida das pessoas, em fim, revolucionar o modo de vida de cada um de nós.

Nesse sentido, o mundo que eu e o meu esposo sonhávamos para o nosso filho era bem diferente do que estamos vivendo. Sonhávamos com a liberdade de poder sair, apresentá-lo ao mundo, aos amigos, parentes; receber a visita e o carinho das pessoas que amamos nesse momento tão importante na nossa vida. \Não foi exatamente como imaginávamos, mas foi e está sendo da melhor forma possível.

Para finalizar, posso dizer que ser mãe no contexto da pandemia é amar incondicionalmente, é ser superprotetora, é estar atenta aos cuidados necessários nessa pandemia, é orar em todos os instantes da minha vida para que o meu filho tenha saúde, e descobrir em mim uma força maior que me capacita a cuidar e a doar a minha vida em prol da missão mais linda que Deus poderia ter me dado, SER MÃE.

Bia:

– Meu Deus quando descobrir que estava grávida foi um susto enorme, não pela pandemia, mas por que eu e meu esposo não planejávamos um filho neste momento, pois, temos uma de 3 a 4 anos, estamos construindo nossa casa e como nossa região a gente só consegue um serviço na época da colheita, eu planejava este ano colher café para concluir a nossa construção tão sonhada. Mas, na vida nem tudo é como a gente espera e deseja., em abril a surpresa, eu estava grávida, em plena confusão do mundo, e para minha maior surpresa grávida de gêmeos. Meu chão caiu naquele momento, um já não seria fácil e dois? Mas, Deus é muito bom, colocou pessoas em minha vida que me ajudou a enxergar tudo com outros olhos, como tudo é plano do criado.

Atualmente estou mais tranquila, já estou na reta final da gestação, com os medos e inseguranças, mas muito confiante no Senhor que tudo irá dar certo. Com angustias sim, pois o vírus continua aí e tenho dentro de mim duas vidas para cuidar, zelar e amar. Como moro no interior, a pandemia não me assustou muito, mas sei que devo tomar todos os cuidados necessários, por mim, e em especial, por eles.

Luna Sales – Militante movimento Social e Camponesa

– Gente de Deus, descobrir neste contexto que carrego dentro de mim um ser que mudará toda minha vida, no primeiro momento foi uma sensação estranha, não sei se foi felicidade, medo, angustia, enfim, não sei expressar, pois na verdade aconteceu um turbilhão de coisas dentro de mim

Por ser mulher e militar nos movimentos, muitas coisas passam pela mente: – Será que vou conseguir conciliar emprego e meu bebê? – Será que meu patrão irá permitir que eu continue trabalhando? – Meus Deus o que irá acontecer comigo, com meu bebê que tanto quero e sonhei esses anos todos de militância? – Meu Deus quanta angustia.

Neste primeiro momento nem pensei na pandemia, na confusão do mundão aí fora, só nas criticas de colegas, família etc., que sempre falou que assim que tiver um filho ficará quieta dentro de casa. Só assim para parar com essas viagens etc. Agora terá tempo para o marido etc. Tudo isso vem na cabeça, uma fez que muitos acham, que quando geramos uma vida, nossa vida deve parar e tudo que fazemos por ser mulher não poderemos dar continuidade. Tudo isso dar muito medo, uma vez que, enquanto mulher e agora mãe, precisamos mais ainda no nosso serviço para cuidar do nosso anjinho que está dentro de nós. Mas, mesmo diante todos esses questionamentos, enquanto mulher de luta e camponesa, não desistirei dos meus sonhos, projetos de vida e do meu mais desejado sonho, ser mãe.

Penso que o vírus é ruim, mas o pior para nós que somos mulheres, que lutamos pelo bem comum de toda uma sociedade são as opiniões e colocações que surgem, que nos oprimem por ser mulher, por queremos ser mãe, e enquanto mãe queremos continuar na nossa militância. Aqui sigo, eu e meu bebê, neste contexto indeciso e com a certeza que juntas (o), venceremos essas barreiras e vitórias cantaremos. Viva a luta feminista.

Por Edilene Alves Silva – Graduada Serviço Social e Pedagogia, Pós-graduada em Políticas Públicas e Gestão Social, Agente CPT – Sul Sudoeste.

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