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CPT BAHIA

Comunidades denunciam injustiças socioambientais na 12ª Romaria em Defesa da Vida em Campo Alegre de Lourdes

No último domingo (26), o município de Campo Alegre de Lourdes (BA) celebrou a 12ª Romaria em Defesa da Vida. O evento, que reuniu centenas de pessoas de diversas comunidades da região, deu voz a uma série de injustiças socioambientais que a população local tem enfrentado e reafirmou o compromisso da luta coletiva dos trabalhadores/as.

Em uma grande caminhada, os romeiros e romeiras exibiram faixas e cartazes relacionados com o tema da 12ª edição da Romaria em Defesa da Vida: “De mãos dadas contra as injustiças socioambientais”. A temática convidou os/as participantes a defender a Casa Comum e a refletir sobre as palavras de Mateus 23,8 “Vós sois todos irmãos e irmãs”.

A procissão da Romaria teve início pela manhã, na comunidade do Barreiro, e seguiu até o pé do Morro do Tuiuiú, patrimônio natural de Campo Alegre de Lourdes. Durante a caminhada, lideranças comunitárias, representantes de associações e da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes animaram as romeiras e os romeiros e denunciaram as injustiças socioambientais vivenciadas em comunidades tradicionais de fundo de pasto do município, a exemplo da Lagoa do Pedro, Baixões, Angico dos Dias, São Gonçalo e Barreiro do Espinheiro.

Não às mineradoras

Há muitos anos a exploração mineral tem sido motivo de grande preocupação para as comunidades locais. A atividade minerária no município de Campo Alegre já provocou a degradação do solo, contaminação das águas e do ar, perda de criação e plantação, afetando a qualidade e a vida da população. Os efeitos da mineração são percebidos mais claramente no território de fundo de pasto de Angico dos Dias, onde a empresa Galvani extrai fosfato no meio da comunidade. Recentemente, a notícia de uma “Província Mineral” no Norte da Bahia, que representa o avanço dessa atividade na região, vem assombrando ainda mais a vida das famílias camponesas. As comunidades pedem por uma fiscalização rigorosa e pela responsabilização das violações de direitos cometidas pelas empresas exploradoras de minério.

Territórios livres de grilagens e agrotóxicos

A Romaria também trouxe à tona a questão especulação fundiária e a grilagem de terras no município de Campo Alegre de Lourdes, que tem gerado uma série de conflitos e incertezas entre os/as trabalhadores/as rurais. As falsas promessas e as estratégias que os grandes empreendimentos utilizam para se apropriar das terras ameaçam a permanência de muitas famílias em seus territórios ancestrais.

Com a crescente invasão nos territórios das comunidades, outro problema tem surgido: a contaminação pelo uso desenfreado de agrotóxicos. A Cooperativa de Pequenos Apicultores de Campo Alegre de Lourdes (COAPICAL) denunciou os perigos do uso de agrotóxicos e as consequências para as criações de abelhas. “Nossa região é conhecida pela produção de mel, os agrotóxicos afetam diretamente a vida das abelhas e o uso intensivo desses produtos químicos não só ameaça a produção de mel, mas também a biodiversidade local e a saúde dos trabalhadores rurais. A Cooperativa COAPICAL defende práticas agrícolas mais sustentáveis”, destacou Anselmo Ferreira, integrante da Cooperativa e agente da Comissão Pastoral da Terra.

Pelo fim das queimadas e do acúmulo de lixo

A comunidade de Lagoa do Pedro levantou a bandeira contra as queimadas, uma prática que tem devastado a vegetação local, prejudicando a fauna e causando problemas à saúde da população. Os/as moradores/as exigem medidas efetivas para prevenir e controlar os incêndios, além do desenvolvimento de campanhas de conscientização sobre os danos ambientais e sociais das queimadas.

“O meio ambiente é parte da gente, vamos preservá-lo, seja consciente. Não jogue lixo, jogue sementes” estava escrito em um cartaz durante a 12ª Romaria em Defesa da Vida. O acúmulo de lixo e a falta de um sistema adequado de coleta e tratamento de resíduos foram denunciados pela comunidade Barreiro do Espinheiro. O problema do lixo impacta diretamente a saúde pública e o meio ambiente. Os/as moradores/as pedem ações imediatas para a implantação de políticas de gestão de resíduos sólidos mais eficientes.

Caatinga em pé

A preservação da Caatinga e toda a biodiversidade desse bioma foi lembrada pelo assessor técnico do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) Agostinho Pereira. O colaborador do Irpaa ressaltou a importância das ações de recaatingamento realizadas em Campo Alegre de Lourdes, que vem sensibilizando as comunidades, jovens e proporcionando o engajamento de outras organizações em defesa da preservação desse bioma.

Celebração final

Após a procissão, que reafirmou a defesa das iniciativas de organização popular pela vida do Morro do Tuiuiú e do povo, os romeiros e romeiras participaram de  uma Missa celebrada pelo Pe. Bernardo Hanke, da Paróquia de Campo Alegre de Lourdes. Padre Bernardo lembrou dos recentes crimes ambientais causados pela mineração em Brumadinho/MG e em Maceió/AL, além das inundações no estado do Rio Grande do Sul, chamando a atenção para os efeitos das mudanças climáticas, provocadas por ações devastadoras do ser humano e do modelo de produção dominante no em nossa sociedade. Com isso, Padre Bernardo convidou romeiras e romeiros a cuidarem da terra e da água em comunidade, dizendo sim à vida e não à morte.

A 12ª Romaria em Defesa da Vida contou com a presença de diversas organizações populares: Rede Mulher, União das Associações das Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop), Irpaa, Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Pastoral da Comunicação de Campo Alegre, entre outros.

O evento foi encerrado com uma vibrante apresentação cultural do Grupo de Capoeira Garras da Fé, simbolizando a resistência e a esperança de um futuro mais justo e sustentável para todos/as. A 12ª Romaria em Defesa da Vida foi organizada pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e pelo Fórum de Entidades Populares.

Texto e fotos: CPT Juazeiro

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