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CPT BAHIA

Correntina se mobiliza contra desmatamento no Cerrado

Fonte: http://saofranciscovivo.org.br/site/camponeses-dao-exemplo-de-soberania-em-correntina-ba/

 

Camponeses, sindicatos, movimentos sociais, estudantes, ambientalistas e entidades de apoio se uniram na última quinta-feira (06), para dizer não a um empreendimento que o Grupo Mizote pretende se implantar em Correntina, município do oeste baiano. Com apitos, faixas, bandeiras, latas e palavras de ordem, mais de 300 pessoas disseram que não querem mais desmatamento na região porque precisam do Cerrado vivo para produzir água e alimentos para o povo do lugar.

A Audiência Pública, que seria presidida pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), tinha como objetivo apresentar o empreendimento para a sociedade e solicitar a Licença Prévia (LP) para desmatar 25 dos 38 mil hectares da Fazenda Barra Velha, uma rica faixa de terra que o Grupo Mizote adquiriu entre os rios do Meio e Santo Antônio.

 

Ao ver as dimensões que a mobilização tomou, e da impossibilidade de se iniciar a Audiência Pública, mesmo com apoio e reforço policial, os representante do INEMA e do grupo Mizote deixaram o espaço sob vaias e gritos dos manifestantes. Esta não é a primeira vez que a população barra uma audiência pública para impedir que o Grupo Mizote adquira uma licença ambiental para seus negócios em Correntina. No dia 23 de outubro de 2013, o campesinato de Correntina bradou “Fora Mizote”, impedindo que a Audiência Pública acontecesse. Para o agente local da Articulação Popular São Francisco Vivo, Samuel Brito, o povo de Correntina deu um exemplo de soberania ao impedir a audiência. “Nós sabemos as mazelas que esse empreendimento causará às comunidades, à sociedade em geral e ao meio ambiente”, disse.

 

Após a suspensão da Audiência Pública, os manifestantes instauraram uma Assembleia Popular, onde representantes das comunidades, movimentos, entidades e organizações sociais puderam reforçar a importância daquele momento para a “Defesa do Cerrado e do seu povo”. O coletivo informou que o movimento em defesa do Cerrado terá continuidade. “A organização popular e a necessidade de manter-se em alerta contra os interesses do capital e da conivência do Estado são os pontos fortes que motivam o movimento a continuar a luta”, afirmam representantes em nota pública assinada pelos grupos e entidades participantes.

 

A nota pública é assinada pelas Comunidades Ribeirinhas e de Fundo e Fecho de Pasto, Associação dos Pequenos Agricultores de Pedra Branca, Associação Comunitária da Escola Família Agrícola Rural de Correntina e Arredores (ACEFARCA), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINDTEC Correntina), Comissão Pastoral da Terra (CPT Centro Oeste) e a Articulação Popular São Francisco Vivo.

 

Correntina é alvo do avanço do agronegócio – O município de Correntina, no oeste baiano, há muitos anos vem sendo alvo dos interesses de empresários do ramo de agronegócio, tendo em vista a sua topografia privilegiada, abundância hídrica, biodiversidade ecológica, variedade de solos e a mão de obra barata. Dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostram que entre 2002 e 2009 a área de Cerrado desmatada na Bahia foi de 6.265 km², o que representa 30 % da área de Cerrado desmatada em todo o Brasil neste período. As estatísticas mostram que o Cerrado poderá perder 40 mil km² por década até 2050. Os municípios que mais desmataram o Cerrado no Brasil estão localizados no oeste da Bahia, e são Formosa do Rio Preto (2.066 km²), Correntina (1.067 km²) e São Desidério (990 km²). Diante dessa situação, famílias agricultoras do Cerrado e suas entidades representativas, assim como organizações e movimentos sociais do oeste baiano, vêm se organizando para impedir a implantação de novos empreendimentos que gerem desmatamento, ao mesmo tempo em que cobram o avanço da reforma agrária e políticas públicas que incentivem a agricultura familiar agroecológica e os empreendimentos econômicos solidários.

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