“Deus sertanejo é irmão e companheiro”
Com uma reflexão inicial sobre os biomas Brasileiros e destacando a vida que neles existe, iniciamos uma reunião ampliada da Comissão
Pastoral da Terra nos dias 14 e 15 de fevereiro de 2017. Estavam presentes, além dos agentes, 44 trabalhadores e trabalhadoras das áreas de acampamentos e assentamentos da Diocese de Ruy Barbosa, que pertencem à CPT Centro Norte da Bahia.
O trecho evangélico “Ser sal e luz da terra” apontou os caminhos do gosto pela vida e iluminou os graves desafios sociopolíticos nacionais do momento; em seguida, a reflexão “a criação do cerrado” nos revelou o jeito do nosso “Deus sertanejo” que está presente e caminha na criação dos biomas brasileiros, sobre tudo no nosso, que é o Bioma Caatinga, submetida hoje ao sofrimento pelas ameaças dos megaprojetos capitalistas.
Dando seguimento ao nosso encontro, os trabalhadores/as partilharam as realidades locais de seus municípios e do estado da Bahia ligados, como estão todos à situação nacional. Foram apontados também alguns fatos e situações internacionais que tem suas consequências no Brasil. Não faltou a preocupação devido à falta de chuva na região, com morte de animais, escassez e falta de alimentos para as pessoas e a continuidade de despejos violentos de trabalhadores da terra. Para completar a soma dos desafios, foi feita do resultado da última eleição municipal, onde a direita conservadora ganhou na maioria dos municípios da Diocese.
“Nossos direitos vêm! Se não vir nossos direitos, o Brasil perde também”
Estava presente um representante do MST Regional que chamou a atenção dos participantes para a conjuntura política nacional, onde foi dado um golpe na democracia e foi denunciada a estratégica do governo da direita em silenciar os movimentos sociais e desarticular a esquerda. Para o MST, o governo que vai “titularizar” as áreas e “individualizar as dívidas”, aparece como uma estratégia para o trabalhador não ter como pagar a débito fazer com que estas terras sejam retomadas pelo governo e vendida para os fazendeiros. Se não fossem os movimentos sociais o golpe seria ainda maior pois “a direita tem lado”.
A liderança do MST informou também que os movimentos sociais e as classes trabalhadoras estão se articulando para uma grande manifestação em Brasília prevista para o mês de agosto deste ano. No momento pede-se para que os movimentos sociais se unam.
Os trabalhadores/as afirmaram ainda que “se a gente não ver a agricultura como saída, então esta é tudo perdido”.
Nos anos 80 a CNBB fez um documento, afirmando categoricamente que “A terra é pra quem nela trabalha!”, por que a terra já estava sendo mercantilizada e acumulada; no ano de 2015 publicou um novo documento que tem o nome “Os desafios da terra”, por que, a vida na terra e da terra está ameaçada. O momento, hoje, exige a retomada do trabalho de base. Por outro lado, observamos as igrejas mercantilizando a fé das pessoas e avança a compra da consciência das pessoas. Impressionou, em seguida, o vídeo do professor Dr. Alysson Mascaro que faz uma abordagem da conjuntura do ódio contra os movimentos sociais, por parte do capitalismo, e do poder da mídia, com o uso do símbolo da CBF, que é uma das instituições mais corrupta do mundo e que foi manipulada por muitos como um símbolo contra a corrupção.
Os representantes do MST ressaltam que o papel da CPT será fundamental na construção da unidade, dos movimentos sociais, dos sindicatos e de outros setores, a fim de retomar o trabalho de base. Para as lideranças presentes na ampliada um dos maiores desafios levantados foi também é formar a juventude rural; as análises da realidade de hoje nos dão conta de que houve uma grande mudança nos assentamentos da reforma agrária onde já existem assentamentos, que “estão ou são mesmo” mais urbanos que rurais.
Esta primeira ampliada de 2017 foi concluída com o planejamento anual. Os pontos mais relevantes apontados foram:
– O trabalho de base;
– A campanha de prevenção e revitalização da bacia hidrográfica do rio Paraguaçu.
A articulação para a realização da Romaria Diocesana que irá celebrar vida do povo nesta situação unindo-a à memória dos 25 anos da morte de Dom Mathias William Schmidt, o Bispo que deu grande a apoio para a criação da CPT na Diocese de Ruy Barbosa e à reforma agrária. Esta será no domingo, dia 21 de maio do ano corrente em Ruy Barbosa.
A ampliada ainda contou com a presença do Bispo de Ruy Barbosa Dom André de Witte, Vice – Presidente Nacional da Comissão Pastoral da Terra.
Tiago Aragão – CPT Centro Norte