O Conselho Popular de Pilão Arcado, instância formada por entidades e organizações populares da região, vem a público denunciar uma tentativa de grilagem de terras em uma área ribeirinha do município.
No mês de maio deste ano, as comunidades tradicionais de fundo de pasto Salinas, Passagem da Areia, Brejo da Taboa e Lagoa Seca, localizadas a cerca de 75 km da sede de Pilão Arcado, foram surpreendidas por pessoas que dizem estar à serviço da Golden Agro informando que as terras pertencem à empresa e que no local será instalado um perímetro de irrigação. Desde então, esses funcionários têm rondado o território das comunidades e pessoas de fora estão espalhando mentiras sobre a posição dos fundos de pasto em relação ao empreendimento.
Conforme informações disponibilizadas no site da empresa, a Golden Agro Fund, criada em 2021, pretende implantar um perímetro irrigado privado para plantação de uva, mirtilo, abacate e manga em Pilão Arcado. A implantação do perímetro irrigado está ainda associada a projetos de créditos de carbono e plástico e de uma smart city.
No entanto, as duas áreas informadas pela Golden Agro Fund como se fossem de sua propriedade (correspondentes a 31.154 e 57.267 hectares) pertencem a quatro comunidades tradicionais de fundo de pasto, que vivem secularmente em seu território. As comunidades atingidas pela tentativa de grilagem vivem da pesca artesanal, criação de animais, praticam a apicultura, o extrativismo e a agricultura. Além disso, esse território faz parte de área de preservação ambiental, a APA Dunas e Veredas do São Francisco.
Durante todos esses meses, as comunidades de fundo de pasto e ribeirinhas têm resistido a essa ameaça de grilagem, reafirmando os seus direitos territoriais de posseiros/as e de comunidades tradicionais. No dia 22 de novembro, representantes das comunidades de Brejo da Taboa, Povoado de Ligeiro e Curralinho de Baixo chegaram a registrar um boletim de ocorrência sobre o conflito.
Diante dessa situação em que mais de 500 famílias poderão ficar desamparadas sem-terra, sem moradia, sem água, sem a produção agrícola, sem peixe, comprometendo a reprodução de todos os seres vivos e a degradação do rio São Francisco, o Conselho Popular de Pilão Arcado se solidariza com as comunidades atingidas pela tentativa de grilagem e reafirma os direitos dessa população de dizer não aos projetos de morte e de destruição socioambiental, que chegam nos territórios com um discurso falso de sustentabilidade e progresso.
Pilão Arcado, 10 de dezembro de 2024.
Conselho Popular de Pilão Arcado.