Cerca de 250 pessoas participaram do lançamento do documentário “Baixões: um povo que luta e resiste há 55 anos” que aconteceu no último sábado, dia 14, na comunidade Baixão do Aleixo, em Barra (BA). Essa é uma realização da Associação dos Posseiros dos Baixões – APB em parceria com a Comissão Pastoral da Terra – CPT Centro Oeste da Bahia (Núcleo Barra), e produção de Thomas Bauer, com o apoio de Welthaus, Diozese Graz-seckau.
Além dos moradores/as das comunidades dos Baixões, também estiveram presentes integrantes da CPT Bahia; Edimilson Evangelista, diretor do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR de Barra; Dr. Clovis Araújo, advogado dos/as posseiros/as e membro da Associação dos Advogados/as dos Trabalhadores/as Rurais – AATR Bahia; Dr. Estácio Marques Dourado, Procurador jurídico da Agência de Defesa Agroflorestal da Bahia – ADAB; Renato do Carmo, coordenador da equipe Busca Ativa de Barra; e Socorro Nunes, vereadora do município da Barra.
O documentário é o produto final da sistematização de experiências iniciada em 2014, com o objetivo de chamar posseiros e posseiras dos Baixões a refletirem sobre o processo de luta e resistência, considerando avanços, retrocessos e aprendizados frente a pressões de empresas que se apresentam como proprietárias de mais de 70 mil hectares, ocupados por várias comunidades, com aproximadamente 500 famílias e mais de 2.000 habitantes.
Para os moradores/as das comunidades apresentadas no produto, essa é uma oportunidade de divulgar uma luta muito antiga, e que até hoje aguarda a titulação das terras e sofrem com a grilagem. Segundo Edimilson Evangelista, esse é um documento fundamental da história da comunidade e da sobrevivência dessa gente. “Essa história vem passando de pai pra filho, isso é muito importante para confirmar que esse povo vive aqui há muitos e muitos anos, e que a luta é para conquistar seus direitos”, disse.
A agricultora e professora, Mari Rose, acredita que o documentário é importante não só para as comunidades envolvidas, mas também para toda a região. “É um recurso histórico que servirá de orientação para as futuras gerações, os filhos e netos dos posseiros, e outros que surgirão. É um documentário riquíssimo que traz muitas informações e a história de luta desse povo sofrido”, afirma.
Já o Dr. Estácio Dourado sugere que esse material como um registro histórico, pode ser projetado em faculdades de Direito e em instituições que trabalham com a terra. “Sem ser pretencioso, pode ser colocado até em universidades da Europa, Estados Unidos pra eles perceberem que em um país em dimensão continental como é o nosso, existem graves problemas fundiários, e que as entidades internacionais possam, de alguma forma, nos ajudar a resolver essa questão”, relata.
Para Clovis Araújo, o documentário valoriza as comunidades pelo registro e a memória, e chama a reflexão, além de ter o caráter formativo. “O produto trata do conflito, da luta e da resistência das comunidades dos Baixões, e isso tem uma importância extraordinária. Primeiro, ele registra momentos das comunidades e faz memória; segundo, a partir desse registro a comunidade pode refletir sobre os passos dados ao longo desta luta, e os próximos que estão por vir. Eu acredito que um documentário como esse é importante porque faz olhar o passado e o presente, pra pensar o futuro”, conclui.
Em 2011, a Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA, concluiu a Ação Discriminatória Administrativa, identificando a área como terra devoluta, portanto pertencente ao Estado da Bahia. Entretanto, em um acordo celebrado entre o Estado e a “Flora Agroflorestal LTDA”, sem a presença dos advogados dos posseiros/as e do coordenador da Ação Discriminatória, a CDA passou para a empresa uma área em torno de 28 mil hectares. Contudo, os 42 mil hectares que correspondem às áreas individuais dos/as posseiros/as, e a área de Fundo de Pasto estão sem solução.
Texto e fotos: CPT Bahia/ Equipe Centro Oeste – Núcleo Barra