“Alegria povo meu, pois Canudos não morreu…”
Foi ao nascer do sol quente da caatinga, nas terras sagradas deste sertão baiano, terra onde correu o sangue da resistência de Antonio Conselheiro e seus companheiros em um dos maiores massacres já registrados no Brasil, em 1897, que aconteceu o Encontrão das Pastorais Sociais de todo o Nordeste, entre os dias 19 e 22 deste mês, em Canudos (BA).
E com o sentimento de Memória, Resistência e Romaria, cerca de 65 agentes de diversas pastorais, organismos e movimentos sociais se reuniram no Encontrão para refletir a crise atual do país e apontar os sinais de esperanças a partir do bem viver das comunidades tradicionais, o bem viver nas relações e nas igrejas, nos terreiros, nas aldeias. Ao final do evento, foram feitos alguns encaminhamentos como o de preparar as bases para a 6º Semana Social Brasileira, celebrar o ano do laicato e criar o Fórum das Pastorais Sociais.
As noites aconteciam celebrações preparatórias da 30ª Romaria dos Mártires de Canudos, que tem o objetivo de fazer memória a resistência e ao massacre de Canudos. Este é um movimento popular que envolve vários grupos sociais e organismos, com a organização da Paroquia local e do Instituto Popular Memorial De Canudos – IPMC. Vale lembrar, que a primeira Romaria aconteceu em 1987, e na última noite de preparação houve uma celebração inter-religiosa com as presenças da Igreja Batista, Terreiro de Umbanda e Igreja Católica Romana.
Em 1893, Antônio Conselheiro chega em Canudos, com populações em estado de abandono e empobrecimento, em um contexto de fim da escravidão através de um decreto que não trouxe nenhum tipo de política compensatória e muito menos de inclusão social. Em 1900, o nordeste passava por várias secas, o que provocou um intenso ciclo de migração interna na região, há registro de cerca de 300 mil mortes entre crianças e idosos.
E a pequena Canudos, que ficava às margens do Rio Vaza – Barris, se tornou um novo mundo para cerca de 20 mil habitantes nordestinos, ex-escravos, empobrecidos, desempregados e agricultores vitimas da inconseqüência humana de um poder que destrói, mata e exclui. Em 1897, a comunidade foi exterminada pelo Estado e pelo latifúndio, e com as bênçãos da Igreja Católica Romana, isso porque estava na contra mão do sistema opressor.
120 anos depois do massacre, podemos afirmar que Canudos não se rendeu, canudos não morreu. Ele está presente em nossas militâncias, dando mais força e coragem nas lutas, e como afirmou José Gonçalves do Nascimento, romeiro de Monte Santo (BA), “e pela libertação”.
Texto e fotos: Tiago Aragão.
Agente da CPT – Centro Norte. BAHIA