cropped-logo-cpt-1.png
Acesse o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2023

CPT BAHIA

Encontro de comunidades realizado em Camamu debateu os impactos e desafios da mineração para o território do Baixo-Sul

Helenna Castro – CPT Sul-Sudoeste

Durante os dias 04 e 05 de setembro, cerca de cem pessoas, entre pescadores/as, marisqueiros/as, quilombolas, agricultores/as, assentados/as da reforma agrária, professores/as, pesquisadores/as e integrantes de organizações populares se reuniram em Camamu para debater os impactos do avanço da mineração e os desafios de enfrentamento na região do Baixo-Sul. O encontro foi marcado pela reafirmação da necessidade da organização do povo como forma de resistência.

Na manhã do dia 4, o Seminário “A Mineração – Impactos e Desafios para o Território do Baixo Sul” se iniciou com um momento de partilha, onde os participantes puderam se conhecer. A mesa de boas-vindas foi composta por representantes das organizações que idealizaram a atividade, o Conselho Pastoral dos Pescadores Bahia-Sergipe (CPP Ba-Se), a KOINONIA, o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), a Comissão Pastoral da Terra (CPT-BA) e a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). Muito foi ressaltada a importância desse momento de aprendizado e intercâmbio.

A programação se iniciou com a exposição de Jaine Miranda, historiadora e agente da Comissão Pastoral da Terra, que abordou a atual conjuntura da mineração no Brasil e na Bahia. Em sua fala, foi relembrado o passado colonial brasileiro, quando ocorria o saque institucionalizado dos minérios pelos portugueses através de muita violência e processo de escravização e como este reflete na atual política mineral brasileira. Foi apontado também como o atual modelo minerário adotado pelo governo baiano privilegia os interesses das empresas em detrimento das comunidades impactadas pelos empreendimentos.

Sobre a mineração na região do Sul e, mais especificamente no denominado Baixo-Sul do estado, que conta com 15 municípios, contou-se com a apresentação de Eduardo Barcelos, engenheiro ambiental e doutor em geografia, que leciona no Instituto Federal Baiano – campus Valença. O professor trouxe dados dos Cadernos de Conflitos no Campo, elaborados pela CPT, que apontam a mineração como um dos principais causadores de impactos ambientais no estado, quer seja por questão de terra / território, trabalhistas ou por água.

Um gráfico mostrou como os pedidos de pesquisa mineral tem avançado rapidamente nos últimos anos no baixo-sul, com 419 processos ativos atualmente. Também foi analisada a chegada de empreendimentos energéticos à região sem que houvesse crescimento da população ou outro fator que justificasse além da atividade mineradora, que necessita de bastante energia para operar.

Eduardo Barcelos analisa o crescimento do número de processos minerários no baixo-sul da Bahia. Foto: Helenna Castro.

Foi formada, à tarde, uma mesa com representantes das comunidades presentes, que denunciaram diversos conflitos e relataram a dificuldade em conseguir que o poder público tome providências para regular o avanço da mineração, que vem prejudicando a saúde do povo e o bioma local. Também compôs a mesa um militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM – BA), que falou sobre a realidade da região do Alto Sertão do estado, onde vários municípios vem sendo drasticamente impactos pela mineração de ferro, e ressaltou a importância da organização popular em defesa dos territórios.

Mesa com representantes das comunidades do baixo-sul e militante do MAM – BA. Foto: Helenna Castro.
Participantes assistem doc. Foto: Jaine Miranda.

Após as falas, foi exibido o documentário “Por Trás da Poeira” produzido em 2023 por estudantes de Comunicação Social da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em parceira com a CPT – BA e o MAM – BA, que discute o Projeto Pedra de Ferro, grande empreendimento que abarca a Mina Pedra de Ferro, localizada em Caetité, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e o Porto Sul, que está sendo construído em Ilhéus para escoar minérios e grãos.

Documentário “Por Trás da Poeira” (2023), que trata do Complexo Logístico Intermodal Porto Sul (CLIPS), já está disponível no Youtube

Durante o debate que se seguiu, uma moradora da território quilombola Pratigi e Matapera relatou que devido às atividades de dois areais, vem ocorrendo muito desmatamento na região e o manguezal na comunidade tem sido contaminado, especialmente durantes as chuvas, o que ocasiona a diminuição do número de caranguejos e prejudica a economia local. Outra preocupação dos participantes foi com a poluição da água, que impacta pincipalmente a vida de quem tira o sustento da pesca e da agricultura. Uma moradora do Vale do Jiquiriçá alertou: “quando o trabalho começar, a gente não vai mais conseguir pescar aqui.”

No dia 5, os participantes do encontro realizaram debates em grupos para discutir quais são as possíveis medidas de enfrentamento aos conflitos atuais e à crescente demanda por exploração mineral na região. As principais formas de resistir apontadas foram a construção de uma formação continuada dos integrantes das comunidades, para que estes conheçam seus direitos e compreendam como elaborar estratégias de luta, o fortalecimento das organizações comunitárias dos territórios e a aproximação das juventudes com os processos de resistência. Ficou apontada, além disso, a necessidade da construção de mais espaços de troca de conhecimentos e experiências como este em breve.

“É o que ocorre com a saúde onde tem mineração” – Mateus Britto, militante do MAM – BA:

Quando uma mineradora
Cresce o olho numa terra
Coisa boa não se espera
Pra nossas comunidade
Logo sua atividade
Adoece o cidadão
É o que ocorre com a saúde
Onde tem mineração

Doença respiratória
É a coisa mais comum
Câncer não é incomum
Nem suicídio é novidade
Fora quando a ansiedade
Vai comendo o cidadão
É o que ocorre com a saúde
Onde tem mineração

Quando a gente adoece
Não consegue mais serviço
Vai tomando prejuízo
Passando necessidade
A maior dificuldade
Pra comprar medicação
É o que ocorre com a saúde
Onde tem mineração

A burguesia mineral
Aliada da doença
Quer assinar nossa sentença
Com sua brutalidade
A sua prioridade
É o lucro do patrão
É o que ocorre com a saúde
Onde tem mineração”

Mística final. Foto: Helenna Castro.

Para saber mais sobre os conflitos minerários na Bahia e no Brasil e como as comunidades vem resistindo, leia nossas produções em www.cptba.org.br ou em www.cptnacional.org.br

Gostou desse conteúdo? Compartilhe
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp

Postagens recentes: