A cada dia chega a notícia da morte de um rio, ou que um rio famoso agoniza. Afluentes dos grandes rios brasileiro estão sendo mortos às centenas, aos milhares, num verdadeiro hidrocídio, isto é, a matança das águas.
Esses dias nos chegou a visão do leito seco do Paracatu, um dos maiores afluentes do São Francisco.
No ano passado, em Macapá, me contaram que a pororoca do rio Araguari estava extinta.
Esse ano, no Acre, me contaram que o prognóstico científico é que o rio do Acre seque em dez anos.
Em Miracema, quando estive lá no ano passado, quase atravessamos o rio Tocantins a pé, com a água alcançando no máximo a cintura.
Ali mesmo nos contaram que o rio Javaés, que faz a Ilha do Bananal, considerada a maior ilha fluvial do mundo, também tinha secado.
O Velho Chico agoniza a olho nu, com pouco mais de 500 m3/s, e na sua foz o mar avança São Francisco adentro, já salinizando as águas antigamente doces das comunidades ribeirinhas.
Nosso ciclo das águas, que se origina na Amazônia e depois se espalha por todo território brasileiro, chegando até Buenos Aires, Assunção e Montevideo, está sendo estrangulado pelas atividades predadoras que precisam destruir a vegetação para se impor. Ao destruir a Amazônia matamos a bomba biótica que injeta água na atmosfera, ao destruir o Cerrado matamos nossos maiores reservatórios naturais, aquíferos como o Bambuí, Urucuia e Guarani. A riqueza derivada da rapinagem não tem fôlego e também entrará em colapso com o colapso de nossas águas.
Não sabemos exatamente o que será e nem como será, só sabemos que estamos preparando o inferno para as gerações futuras.
Mesmo assim não nos conformamos. Como diz uma frase atribuída a Martin Luther King, “se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, mesmo assim hoje eu plantaria uma árvore”.
Roberto Malvezzi (Gogó)