CPT Sul-Sudoeste
Moradores das comunidades de Licínio de Almeida e lideranças populares de Urandi denunciam os impactos nas fontes de água e de abastecimento comunitário provocados pelas obras e implantação de parque eólico na serra que faz divisa entre os municípios.
O problema principal enfrentado pelas comunidades envolve o aterramento das nascentes e a contaminação da água. No final do ano de 2023, já havia denúncias de que as obras de terraplanagem do empreendimento contaminavam as nascentes e a barragem que abastecia Urandi com lama e rejeitos, afetando 8 mil pessoas. Duas audiências públicas foram realizadas entre 2023 e 2024, contudo, apesar dos já comprovados impactos, as medidas tomadas pela empresa foram mínimas e paliativas.
Mateus Silveira (PCdoB), vereador de Urandi, aponta que “mesmo com a aplicação de algumas medidas que foram realizadas, a população urandiense, as nascentes e a barragem local sofrem com os impactos” e que “nessas últimas chuvas de janeiro de 2025 os moradores de Urandi conviveram com as lamas nas torneiras, causadas pelos impactos acometidos na serra geral.” O vereador ressalta que diante da situação há necessidade de retomar as mobilizações e a fiscalização a fim de conseguirem uma resposta concreta para a situação.
Juliana Aranha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Urandi, também denuncia: “Não houve ações positivas concretas e palpáveis para a população. O Parque Serra das Almas continuou e continua em pleno funcionamento, cumprindo o projeto. O abastecimento de água continua comprometido e o município prejudicado social e ambientalmente, sem resolução do problema. É preciso sensibilização, vontade política das três esferas de governo em cumprir o mínimo das legislações e ouvir as reivindicações daqueles que estão sendo impactados”.
No caso de Licínio de Almeida, houve ainda mais omissão sobre o problema pelas autoridades competentes e falta de resposta por parte da empresa. Os impactos afetam 600 famílias diretamente e milhares indiretamente. Segundo Manoel Carlos, morador da comunidade de Santa Efigênia, ocorreram “muitas reuniões com os moradores, representantes das empresas e o poder público, mas as promessas em ajudar a comunidade só ficam no papel.” Ele afirma que foram feitas solicitações para que a empresa limpasse a barragem que abastece a comunidade, mas a mesma alegou que não poderia: “na verdade eles não quiseram limpar a barragem para não assumir que foram eles que causaram o problema.”
Manoel destaca o que precisa ser feito de imediato frente ao descaso que as comunidades vem enfrentando: apoio com caixas para armazenar água para o consumo, purificadores de água, instalação de poços artesianos, e indenização pelos prejuízos ambientais causados a cada morador, visto que muitos deixaram de cultivar devido aos problemas da diminuição e contaminação da água.
Acesse o perfil no Instagram criado pelos moradores de algumas comunidades de Licínio de Almeida e veja mais denúncias: associacaomoradoresoficial
O descaso por parte do Estado quanto aos direitos da população e o estímulo a esse modelo de desenvolvimento transformam a natureza em negócio e destróem as condições essenciais e necessárias à reprodução da vida, como o acesso à água de qualidade.
As populações se revoltam contra os impactos e buscam formas de denunciar coletiva e individualmente, mas o potencial fragmentado e localizado das resistências limita sua atuação. Apesar disso, as evidências da crise ambiental que se alarga despertam consciências para a necessidade de articulação em defesa dos povos e da natureza.
O grito das lideranças das comunidades de Urandi e Licínio de Almeida é um grito comum de diversos povos da Bahia!