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CPT BAHIA

Irmã e irmão, desistir não é opção: 47ª Romaria da Terra e das Águas reafirma dever social em defender a Casa Comum

Entre os dias 5 e 7 de julho, milhares de romeiros/as se encontraram em Bom Jesus da Lapa para participar da 47ª Romaria da Terra e das Águas

Diosvaldo Filho e Helenna Castro – Comunicação da Comissão Pastoral da Terra – BA

Para reafirmar o compromisso com a defesa da Casa Comum, romeiros/as, integrantes de organizações sociais, representantes de dioceses e arquidioceses, estiveram mais uma vez em Bom Jesus da Lapa para a 47ª Romaria da Terra e das Águas, entre os dias 5 e 7 de julho. Em 2024 o tema foi “De mãos dadas por justiça socioambiental para salvar a Casa Comum” e o lema, “Farei uma nova Aliança com meu povo” (Cf. Jeremias, 31:31).

A romaria se iniciou na sexta-feira, dia 5, com o acolhimento dos participantes durante o dia e com a realização da Santa Missa de boas-vindas à noite, celebrada na Esplanada do Santuário do Bom Jesus da Lapa. Após a celebração, foi inaugurada a 2ª edição da Feira dos Povos e das Águas, na Praça Monsenhor Turíbio, onde os/as romeiros/as comercializaram produtos como alimentos, artesanatos e roupas. E para embalar a noite, muito forró!

Primeiro dia da 47ª Romaria da Terra e das Águas é marcado por encontro dos povos em defesa da Casa Comum

Plenarinhos

Na manhã do sábado, dia 6, os/as romeiros/as se dividiram entre 5 Plenarinhos para momentos de intercâmbios de realidades e discussão entre os povos. 

Na igreja de São José Operário, o tema do debate foi “Terra e Territórios protegidos e garantidos para salvar a Casa Comum!”, que teve como inspiradoras Mãe Bernadete e Nega Pataxó, duas mártires da terra, assassinadas em 2023 e 2024, respectivamente. Na Carta da 47ª RTA ficou expresso que nesse Plenarinho “os compromissos ecoaram como um grito de Demarcação Já e contra o PL 709/2023 que criminaliza as ocupações rurais e urbanas, e de unir nossas lutas em defesa da titulação e regularização de todos os territórios e pela inconstitucionalidade da Lei 14.701/23, fortalecendo as iniciativas próprias das comunidades de proteção territorial e autodemarcação.” 

No plenarinho “Fé e Política: Movimento Encantar a Política”, que ocorreu no Centro Dom Muniz, os inspiradores foram Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018 por defender os direitos das populações negras e periféricas,  e Mariano Meira, nascido no povoado de Rio do Meio, no município de Itororó – BA, integrante histórico das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e participante da Romaria da Terra e das Águas desde a sua criação, em 1978. De acordo com a Carta, “a partir da necessidade da ampliação de formação de lideranças e incidência política principalmente por conta da proximidade das eleições e avanço das notícias falsas e extrema direita que carregam em si um projeto de morte dos povos, comunidades e da Casa Comum, os compromissos assumidos foram: formação de lideranças jovens e comprometidas com a continuidade das lutas e da história e realização da Romaria da Terra e das Águas de Bom Jesus da Lapa e participar ativamente da política nos diferentes espaços da sociedade e junto ao povo, sendo Igreja comprometida com as causas populares – Participar da política institucional e nas bases – Encantar a Política.” 

Realizado na Igreja Bom Jesus dos Navegantes, o plenarinho “Rio São Francisco e outras bacias – Mudanças climáticas impactam as águas e as comunidades; mas há resistências!”, o lutador inspirador do debate foi Fábio Santana, pescador originário de Canavieiras – BA, que participou da fundação da Reserva Extrativista de Canavieiras (RESEX) e da Associação Mãe dos Extrativistas da Resex (AMEX) em seu município. Os compromissos firmados foram “fortalecer o diálogo com as universidades e articulação para incidência política; Demandar das instituições de ensino, pesquisa e extensão para melhorar a gestão dos bens naturais, como a água; e, (Re)ocupar as representações populares nos conselhos das bacias hidrográficas.”

Isidora  Santos, ex-coordenadora da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) da Bahia e atual coordenadora diocesana da Pastoral do Meio Ambiente de Bom Jesus da Lapa,  e Flávio de Souza, também  ex-coordenador da PJMP – BA, inspiraram o plenarinho “Juventudes: Na diversidade das juventudes, juntos, construímos caminhos de justiça e amizade social”, que ocorreu no Pavilhão da Secretaria de Educação de Bom Jesus da Lapa. Segundo a Carta, “os compromissos foram: promover a cultura de acolhimento, fraternidade e respeito entre as juventudes diversas; e, construir subsídios para encontros de grupos vinculados à igreja, a fim de colaborar com a formação continuada dos grupos populares.”

Inspirado pelas crianças do Capão do Modesto, território  tradicional de Fecho-de-pasto que sofreu diversos ataques nos últimos anos por parte do agronegócio, o plenarinho “Crianças unidas para salvar a Casa Comum!” foi realizado na Casa da Cultura de Bom Jesus da Lapa. “Através da ludicidade e de atividades manuais com materiais reutilizados, as crianças assumiram os compromissos de preservar o meio ambiente, não cortar as árvores, não desmatar as florestas, não jogar lixo no meio ambiente, não jogar veneno nos alimentos, preservar as águas, preservar o rio São Francisco”. Além disso, para desenvolver hábitos para consumo responsável, as crianças refletiram que é importante que se respeite a regra básica da sustentabilidade que são os Três Erres: Reduzir, Reciclar e Reutilizar.

Via Sacra

Durante a tarde do dia 6, ocorreu a Via Sacra, caminhada realizada pelos/as romeiros/as pelas ruas de Bom Jesus da Lapa, para denunciar os conflitos e ataques sofridos em seus territórios e reafirmar a resistência popular a partir de uma espiritualidade libertadora.

Após percurso da Via Sacra, que se iniciou e finalizou na Esplanada do Santuário, os/as romeiros/as subiram ao altar para um momento de celebração e demonstração da união dos povos enquanto ferramenta de defesa da Casa Comum.

Grande Plenária

No último dia de atividades da Romaria, os participantes se encontraram na Gruta de Nossa Senhora da Soledade para a grande plenária, onde foram sintetizados os debates dos plenarinhos e elaborada a Carta da 47ª Romaria da Terra e das Águas, documento que elenca os compromissos firmados pelos/as romeiros/as em busca da construção da justiça socioambiental.

Até a 48ª Romaria da Terra e das Águas, em 2025!

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