Com o objetivo de reafirmar a identidade camponesa como elemento de resistência e enfrentamento aos modelos de desenvolvimento que ameaçam os territórios das comunidades, 20 jovens do campo ligados a assentamentos da reforma agrária, comunidades quilombolas da região de Lages dos Negros, comunidades de fundo e fecho de pasto, além de comunidades impactadas pela mineração, participaram em Campo Formoso-BA, nos dias 27 e 28 de novembro, do encontro de formação sobre juventude e identidade camponesa. Organizado em conjunto pelo Movimento dos Trabalhadores Assentados e Acampados (CETA), pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), pela Pastoral da Juventude do Meio Popular e pela CPT, o encontro reuniu participantes de diversos municípios da região da Diocese de Bonfim e contou com o apoio da CESE.
Após a apresentação dos participantes e mística de abertura, José Beniezio, agente da CPT Sul Sudoeste-BA, conduziu uma reflexão sobre o funcionamento da sociedade capitalista, destacando que, de acordo com a concepção marxista, neste modelo de sociedade existe duas classes sociais essenciais: os capitalistas(burguesia, elite, ricos) e os(as) trabalhadores. A forma como os capitalistas conseguem acumular riqueza é através da exploração do trabalho empregado em todos os processos de produção. Nos processos produtivos capitalistas, o trabalhador é invisibilizado, vez que, o resultado do seu trabalho encontra separado de si – alienado – e apropriado pelo capital, encontrando associado a uma marca/empresa que detém os meios de produção e submete o trabalhador.
Beniezio considerou ainda que nas sociedades primitivas não existia a exploração do homem pelo homem para a acumulação de riqueza. As relações eram baseadas mais em processos de colaboração mútua e de organização como condição de sobrevivência. Com o desenvolvimento da agricultura e com a produção de excedentes, começou a se desenvolver processos de acumulação e consequentemente de exploração, opressão e desigualdades inerentes a sociedades de classes.
As relações sociais no campo estão inseridas neste contexto de desenvolvimento capitalista, onde os territórios das comunidades tradicionais são objetos de disputa entre as empresas e as comunidades. Segundo Beniezio, não interessa às empresas e ao Estado (que nasceu como empresa e está ao serviço do capital), que os/as jovens se identifiquem e tenham condições de viver bem no campo, pois isso significaria uma resistência maior à expansão do capital sobre os territórios.
Ele acredita que é preciso romper com a visão do campo/do rural como “lugar do atraso”. “É necessário garantir que haja investimentos em políticas públicas apropriadas para as juventudes camponesas: educação, cultura/lazer, possibilidades de trabalho digno voltadas para a permanência no campo, pois as cidades, não oferecem oportunidades reais de desenvolvimento para nós, principalmente devido a precariedade da qualidade de vida, a insegurança, o desemprego, as drogas e diversas formas de violência contra a classe trabalhadora e de modo particular contra as juventudes oriundas do campo” afirmou Jaziel, jovem participante do encontro.
Como resultado, foi definida uma agenda de encontros com as juventudes nas regiões de Antônio Gonçalves, Campo Formoso-Lages dos Negros, Jacobina-Ourolândia a fim de dar continuidade a formação, a articulação e a organização das juventudes na região. O primeiro encontro vai acontecer na Escola Família Agrícola de Antônio Gonçalves, no período de 22 a 24 de janeiro de 2016, com o tema: “Juventude camponesa construindo a sua história”.
CPT Centro Norte, Diocese de Bonfim.