Os trabalhadores e trabalhadoras rurais do Movimento CETA ocupam há 20 meses a Fazenda Guanabara, às margens do Rio Pardo, no município de Mascote – BA e nesta terça-feira, 13 de dezembro, a justiça definiu o dia 31 de maio de 2017 como último prazo para a desocupação. A audiência que estabeleceu a data cotou com a presença dos trabalhadores e dos proprietários da fazenda, mas não tratou dos motivos da ocupação, e sim do descumprimento pela terceira vez da ordem judicial para a saída dos trabalhadores do local. Esse é mais um capítulo de uma disputa que se dá desde 2010.
Em 2010 a comunidade que vivia as margens do Rio Pardo, na região de Mascote organizada pelo Movimento do(a)s Trabalhadore(a)s Assentado(a)s e Acampado(a)s da Bahia (CETA) ocuparam a Fazenda Guanabara. Lá começaram a produzir alimentos, conseguiram colocar uma Escola para funcionar. Começaram a sonhar com o pequeno pedaço de terra e uma vida digna.
Em 2012 sofreram despejo e foram obrigados a voltar a morar entre o Rio Pardo e a BR 101. Ficaram expostos a violência dos fazendeiros e ao tráfico. A juventude sem nenhuma perspectiva de melhorar de vida não tinham condições de exercerem sua humanidade.
No dia 26 de abril de 2015 o CETA voltou a reocupar a área preparando a terra para 50 famílias. A fazenda tem 386 hectares e foi encontrada em total abandono sem produzir nada e sendo desmatada ilegalmente. Coube aos trabalhadores e trabalhadoras reflorestar toda a área e também proteger as nascentes. Cultivavam abóbora, mandioca, hortaliças, melancia e criavam 45 cabeças de gado de leite.
O fato de fazerem a terra cumprir a sua função social de produzir e humanizar a quem nela trabalha encheu de esperança a comunidade. Era visível as melhorias no local. A Fazenda Guanabara está endividada e preenche todos os pré-requisitos para ser desapropriada para fins da reforma agrária. Mesmo assim, em audiência pública, o juiz emitiu o mandado de reintegração de posse entregando a terra a quem nela não trabalha.
Esse histórico de ocupação e reintegração de posse na Fazenda Guanabara evidência a luta pela terra no nosso estado. Fazendas endividadas, abandonadas após a crise do cacau preenchem todos os pré-requisitos para serem desapropriadas, mas continuam em posse dos fazendeiros. O que tem como pano de fundo é a luta histórica pela reforma agrária. As elites do nosso país não permitirão que o povo tenha acesso a terra, pois sabem que esse é o ponto estrutural da soberania popular.