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CPT BAHIA

Lançamento do relatório da CPT reúne comunidade acadêmica, entidades e movimentos sociais em Salvador

Na tarde desta quarta-feira, dia 20, a Comissão Pastoral da Terra da Bahia em parceria com o grupo de pesquisa Geografar, do curso de pós-graduação em Geografia e Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), lançou o relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2017, em Salvador.

Na abertura, um dos coordenadores da CPT Bahia, o Frei Luciano Bernardi, realizou uma emocionante mística em memória dos 10 assassinatos no ano passado no Estado. Em seguida, o cacique Ramon Tupinambá concluiu a mística.

Roseilda Conceição, do setor de documentação da CPT, abriu os debates com a apresentação dos dados da violência e dos conflitos trabalhistas, por terra e água no campo brasileiro e baiano, destacando o aumento de 134% relacionados a água na Bahia e o massacre dos seis quilombolas da Comunidade de Iúna, em Lençóis. Em 2017, o Brasil teve o maior número de assassinatos em conflitos no campo dos últimos 14 anos. Foram 71 pessoas assassinadas, dos quais, 31 destes ocorreram em 5 massacres, o que corresponde a 44% do total.

A discussão em torno da água foi feita por Claudio Dourado, agente da CPT, que apresentou as causas desse aumento, e os impactos nas bacias e nas comunidades tradicionais. “A água não é simplesmente um recurso natural, ela é um elemento fundamental do território, e esse conflito acontece justamente pela disputa do território nas regiões com potencial hídrico: um conflito agrário entre o capital que utiliza a água como fator de produção de commodities versus as comunidades que utilizam o rio como parte essencial nos seus modos de vida. O Estado trata ambos os casos como meros consumidores, e isso intensifica o conflito”, disse.

Mauricio Correia, advogado da Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais (AATR), fez uma análise dos aspectos que contribuíram para o aumento crescente da violência no campo, principalmente o papel político.  “A questão da violência no campo, de certo modo, ela independe da questão conjuntural, ela sempre existiu, e é fruto de questões estruturais. Enquanto existir a concentração fundiária e a concentração sobre o controle dos recursos naturais, como consequência disso vai haver violência”, argumentou. E continuou: “Porque as comunidades quilombolas em 2017 sofreram esses ataques que parecem tão coordenados? Ou será que não foi coordenado? São questões que ficam.  As comunidades quilombolas parecem que viraram um alvo preferencial, e o que talvez também possa ser uma hipótese para explicar isso é o próprio avanço da luta quilombola”.

Maria Bernadete Pacífico – Comunidade Quilombola Pitanga dos Palmares.

Segundo Maria Bernadete Pacífico, mãe de Flávio Gabriel Pacifico dos Santos, líder quilombola assassinado em 2017, e integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a história de um quilombo é uma história de resistência. Além de relatar a luta e os conflitos que várias comunidades quilombolas estão sofrendo, incluindo, Pitanga de Palmares, Bernadete enfatizou a importância da união entre as comunidades tradicionais. “Ser quilombola é muito difícil. Nós temos que ser irmãos, temos que nos unir mais ainda. Depois de Temer, parece que virou brincadeira matar os povos tradicionais”, concluiu.

O evento também contou com o relato e participação do Cacique Ramon, de pesquisadores, professores, estudantes, e representantes de entidades e movimentos sociais, como do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Comunidade Quilombola Rio dos Macacos, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA) e do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).

Texto: Comunicação CPT Bahia

Fotos: Thomas Bauer/ CPT Bahia

 

 

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